Após amargar queda nos últimos dois meses, as vendas do varejo restrito (excluindo as vendas do setor automotivo e de material para a construção) registraram crescimento de 1% em abril contra o mês anterior (com ajuste sazonal), surpreendendo as estimativas do mercado que previam queda de 0,7%. A projeção da REAG previa alta de 0,6%. A leitura de abril corresponde à maior alta para o mês em nove anos, ou seja, o maior resultado mensal para abril desde 2008, quando as vendas também subiram 1%. Frente a abril de 2016, a expansão foi de 1,9%, significativamente acima do esperado pelo mercado, que aguardava recuo de 1,6% e a primeira alta nessa base de comparação após 24 meses seguidos de queda. Em relação ao comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, as atividades de Veículos, motos, partes e peças e material de construção, o avanço em relação a março de 2017 foi de 1,5% para o volume de vendas e em relação a abril de 2016, o varejo ampliado variou -0,4%. Segundo o IBGE, o bom resultado de abril veio mais forte por conta das vendas na Páscoa (que foi em abril neste ano, enquanto, em 2016, o feriado foi em março) e devido a uma base de comparação deprimida.
Além dos dois fatores apontados pelo IBGE, o aumento de abril não foi contaminado pela crise de confiança gerada após a divulgação da conversa entre o dono da JBS, Joesley Batista (em delação premiada), e o presidente Michel Temer na noite de 17 de maio, o que pode explicar em boa medida o bom número das vendas ao varejo. Acreditamos que o movimento de alta do comércio em abril seja pontual, com a perspectiva no curto prazo se mantendo desafiadora devido às condições de crédito ainda bastante restritas e mais exigentes, além de ser impactado pelos altos níveis de endividamento das famílias e a deterioração do mercado de trabalho. Observamos ainda que os dados do varejo têm sido extremamente voláteis nos últimos meses, o que inviabiliza a identificação de uma tendência firme de expansão.
Por outro lado, os fundamentos econômicos também apontam para uma recuperação gradual das vendas do varejo nos próximos meses, tendo em vista que:
- os ganhos reais de renda, embora ainda tímidos, têm melhorado nos últimos meses em função da descompressão dos preços;
- a confiança do consumidor tem apresentado trajetória de recuperação;
- a eliminação líquida de postos formais de trabalho tem sido menor comparativamente há meses atrás; e;
- as condições de crédito, apesar de ainda fracas, pararam de piorar em 2017, tendo em vista o comportamento das taxas de juros para as operações destinadas à aquisição de duráveis.
Em virtude da surpresa positiva com o resultado de abril, mas levando em consideração a elevada volatilidade da Pesquisa Mensal do Comércio nos últimos meses, revisamos de -0,1% para +0,3% nossa projeção para o volume de vendas restrito em 2017. Para 2017, esperamos que o varejo restrito cresça 2,2% e o ampliado 1,9%.