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Tombo de quase 20% na produção industrial em abril vem dentro do esperado frente ao cenário de isolamento social, mas ainda é difícil falar que o pior já passou

A produção industrial brasileira recuou 18,8% em abril, comparativamente o mês imediatamente anterior, atingindo o nível mais baixo já registrado na série histórica do IBGE. Esse tombo recorde evidencia a extensão do impacto das medidas de isolamento social na atividade econômica em decorrência da pandemia de coronavírus. Essa seria a maior queda da indústria desde o início da série histórica, em 2002, e o segundo resultado negativo seguido, com perda acumulada de 26,1% no período. Em março, a produção já havia recuado 9% frente ao mês anterior — variação que foi revisada pelo IBGE ante queda de 9,1% anteriormente divulgada. Com a retração de abril, o patamar da produção industrial no país ficou 38,3% abaixo de pico histórico, registrado em maio de 2011.

Na comparação com a leitura de abril do ano passado, a queda foi ainda maior, de 27,2%, o sexto resultado negativo seguido nessa comparação e recorde negativo da série histórica do levantamento. Apesar da forte queda, o resultado de abril veio menos ruim que o esperado. A mediana das expectativas dos economistas era de queda de 30% na variação mensal e de 35% na base anual. No ano, de janeiro a abril, a produção industrial encolheu 8,2%, e nos últimos 12 meses, passou a acumular retração de 2,9%.

A queda da produção foi generalizada, alcançando todas as grandes categorias econômicas e 22 dos 26 ramos pesquisados, sendo que 15 registraram queda recorde. O maior impacto em abril veio da paralisação quase que completa da indústria automobilística. A produção desse setor da indústria caiu 88,5%, na comparação com março e 92,1% na comparação anual, pressionada, em grande medida, pelas paralisações e interrupções na maioria das fábricas do país. Foi a queda mais intensa desde o início da série histórica. Considerando apenas a produção de automóveis, o recuou chegou a 99,9% na comparação com abril do ano passado. A interrupção da produção de veículos impactou diretamente outros segmentos industriais da sua cadeia produtiva, como metalurgia (-28,8%), produtos de borracha e de material plástico (-25,8%) e máquinas e equipamentos (-30,8%). Outros recuos relevantes no mês foram observados nas atividades de couro, artigos para viagem e calçados (-48,8%), bebidas (-37,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,5%), máquinas e equipamentos (-30,8%) e produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%).

A produção somente apresentou alta em segmentos diretamente relacionados a itens aos hábitos de consumo em meio à pandemia. Produtos alimentícios (3,3%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,6%) voltaram a crescer após recuarem em março (-1,0% e -11%, respectivamente). O ramo de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal também teve alta (1,3%), enquanto o setor extrativo ficou estável.

Nossa expectativa é que a forte queda da produção industrial em abril seja o pior momento do setor em meio à pandemia de covid-19, apesar de ainda ser cedo para prever com maior assertividade a trajetória da retomada. Para a REAG, o ano de 2020 será muito duro para a indústria, devendo registrar perda de 7,3%. Nossas projeções apontam para a retomada somente em 2021, quando a indústria deve crescer 6,2%, em comportamento muito similar ao que aconteceu pós recessão mundial pós crise dos subprimes nos EUA.

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