O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reiterou, em ata da reunião de fevereiro/22 divulgada nesta terça, que adotará “ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões”, depois da alta de 1,50 ponto porcentual, quando colocou a Selic a 10,75% a.a.. Além disso, o texto não avançou de forma palpável em informações que poderiam indicar qual percentual de aperto monetário será adotado na reunião de março. Até aqui, sem grandes novidades, comparativamente às últimas comunicações. O destaque, assim, ficou por conta do discurso foi mais duro com o fiscal. Em outras palavras, o Banco Central foi mais contundente acerca dos riscos das propostas de redução de impostos visando o controle de preços e seus impactos em um processo de desancoragem da inflação no horizonte relevante.
Ajustes futuros na Selic:
“Concluiu-se que um novo ajuste de 1,50 ponto porcentual, seguido de ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”, consta na ata.
Contudo, o documento não sinaliza magnitude dos próximos ajustes devido à incerteza “particularmente elevada” sobre os preços de importantes ativos e commodities e ao estágio do ciclo.
“Finalmente, a incerteza particularmente elevada sobre preços de importantes ativos e commodities, assim como o estágio do ciclo, fez o Comitê considerar mais adequado, neste momento, não sinalizar a magnitude dos seus próximos ajustes.”
Além disso, o documento demonstra preocupação do Banco Central com políticas fiscais para combater a inflação, em meio ao debate sobre um possível corte de tributos para aliviar os valores cobrados em combustíveis. Em linhas gerais, a autoridade monetária apresenta apreensão com a adoção de políticas fiscais que buscam controlar a inflação no curto prazo, lembrando que as medidas podem gerar efeito sobre a alta de preços.
“O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, destacou.
Também na ata divulgada hoje, o Copom destaca novamente que a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente que o antecipado.
“A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou, ainda refletindo a gradual normalização da atividade no setor”, em avaliação similar à apontada na reunião de dezembro.
O BC admite que os resultados dos índices de preços vieram acima do esperado, com pressão advindo tanto nos componentes mais voláteis como, daqueles associados à inflação subjacente.
O Copom já elevou a taxa Selic por oito vezes consecutivas desde o início do aperto monetário, em março de 2021, acumulando alta de 8,75 pontos porcentuais, o ajuste mais forte desde 1999.
A REAG projeta que a Selic chegue a 12,25% ao ano ao fim do atual ciclo de aperto monetário, com mais duas altas após a decisão desta quarta. No nosso cenário básico, prevemos a Selic nesse patamar de 12,25% até o final do ano, podendo, no melhor dos cenários encerrar o ano em 11,75%, e devendo recuar para 8% em 2023. Atividade mais fraca e menor importância da inflação de 2022 no horizonte relevante da política monetária dão suporte para tal tese. Para a inflação, a REAG estima IPCA de 5,9% para este ano e de 3,7% em 2023.