Hoje, o mercado voltou a vivenciar mais uma “Super Quarta”, desta vez com tanta importância quanto a última há 45 dias, com duplo cortes de juros (no Brasil e nos Estados Unidos). Primeiro foi a vez do FED, que anunciou no meio da tarde (horário de Brasília), por 7 votos a favor e 3 contra, pelo corte da sua principal taxa de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, para um intervalo entre 1,75% e 2%. Passada a agitação do anúncio do Fomc, após o fechamento do mercado, foi a vez de o Copom anunciar sua decisão pela redução de 0,5 ponto percentual na Selic, de 6% para 5,5% ao ano.
FOMC
A decisão do banco central norte-americano vem como resposta ao aumento da incerteza em relação à evolução da conjuntura, com o Fed tomando corpo ao grupo de bancos centrais que optaram pela mexida na política monetário como estímulo à economia. Na semana passada, o Banco Central Europeu baixou a sua taxa de juro de depósito e anunciou o regresso por tempo indeterminado das compras líquidas de dívida pública. Espera-se que outros bancos centrais, como os da China e do Japão, anunciem medidas de estímulo à economia. Em seu comunicado, deixou aberta a porta para novas quedas do juro, repetindo que agirá “apropriadamente” para sustentar a expansão da economia americana. Ou sejam a decisão, porém, não deu muitas sinalizações sobre a possibilidade de novos cortes.
Essa foi a segunda descida de taxas operada este ano pela autoridade monetária dos EUA, numa inversão de rumo na política monetária que tinha seguido nos dois anos anteriores. Em julho, o FED realizou o seu primeiro corte de taxas em mais de uma década. A nova descida de taxas foi justificada com a necessidade de criar condições monetárias mais favoráveis numa altura em que vários riscos ameaçam o crescimento da economia. Entre os motivos para preocupação destaca-se o impacto que uma escalada do conflito comercial entre os EUA e a China poderia vir a ter no consumo e no investimento, para além dos efeitos negativos que produziria nos mercados financeiros e no resto da economia mundial. A decisão do FED acontece também numa altura em que se assiste, de forma quase sem precedentes na história recente dos EUA, a uma pressão pública do presidente Trump para a aplicação de uma política monetária menos restritiva.
A questão, porém, é que há uma grande divisão nos EUA sobre até onde a autoridade monetária irá com as taxas. De um lado, alguns integrantes do Fed avaliam que o consumo está forte, o desemprego é baixo e a geração de empregos ainda parece boa. Do outro, existem membros vendo com grande preocupação a economia global, com poucas chances de resolução das questões comerciais e outros riscos que podem afetar diretamente os americanos. E cada visão leva a um cenário de juros diferentes. Enquanto o presidente Trump não cansa de pedir pela zeragem das taxas, o chairman do Fed, Jerome Powell, passa mensagens contraditórias a cada vez que faz algum discurso.
COPOM
Assim como a decisão do Fomc era amplamente precificada pelo mercado, a do Copom era praticamente unanimidade entre os analistas, que previam queda da Selic para 5,50%. Apesar da depreciação cambial vivenciada pela economia doméstica desde a última reunião, em julho, a inflação segue bem-comportada, frente à grande a ociosidade na economia. Em outras palavras, o corte da Selic justifica-se pela manutenção do nível de preços no Brasil entre baixo e moderado associado à lentidão da recuperação da atividade econômica, que mantém ampla capacidade ociosa na economia. Em linhas gerais, acreditamos que a depreciação cambial não deverá influenciar o balanço de risco, uma vez que os preços de commodities em dólar têm recuado significativamente, mitigando o efeito líquido sobre a inflação.
Nesse sentido, a autoridade monetária tem espaço para manter o plano de voo de afrouxamento monetário, com pelo menos mais uma queda adicional de 0,25 ponto na próxima reunião. A REAG não descarta, entretanto, a possibilidade de a Selic encerrar esse ciclo de afrouxamento em 5,0%, uma vez que os modelos continuam a indicar que a inflação não rompe o centro da meta de 4,0% em 2020. Mesmo com a economia se recuperando, ainda vai demorar pelo menos um ano para o hiato do produto deixar o terreno negativo, se tudo ocorrer como previsto, com o PIB crescendo 0,9% este ano e 2% em 2020.