Quando o Brasil conseguirá recuperar seu grau de investimento, perdido definitivamente hoje? Com praticamente todos os fundamentos econômicos deteriorados, o Brasil deverá demorar pelo menos uma década para recuperar o selo de bom pagador, isso, se fizer corretamente toda sua lição de casa. Contudo, dizer exatamente quando o Brasil terá de volta sua credibilidade internacional é praticamente um exercício de futurologia. De qualquer forma, a REAG acredita o início do caminho para ter de volta o título de “bom pagador” acontecerá somente a partir de 2017.
A dúvida paira após a última das três mais importantes agências de risco no mundo, a Moody’s, ter retirado hoje o chamado grau de investimento do Brasil.
Analisando o passado recente, identificamos seis países que conseguiram recuperar o título de “bom pagador” após serem rebaixados:
País | perdeu o “investment grade” | recuperou o “investment grade” |
tempo de recuperação (em anos) |
Coreia |
1997 |
1999 |
2 |
Indonésia |
1997 |
2011 |
14 |
Eslováquia |
1998 |
2001 |
3 |
Colômbia |
1999 |
2011 |
12 |
Uruguai |
2002 |
2011 |
9 |
Romênia |
2008 |
2011 |
3 |
Fonte: Banco Itaú BBA
Será que conseguimos retirar alguma lição com esses países? Inicialmente, seria muito simplista dizer que, em média, os países demoram 7 anos para voltar a ter o selo das agências de risco. Isso porque podemos identificar claramente dois grupos distintos entre esses seis países. Um primeiro grupo seria formado por Coreia, Eslováquia e Romênia, cujo tempo de recuperação foi em média de três anos, e um segundo grupo, formado por Indonésia, Colômbia e Uruguai, cujos países demoraram em média 10 anos para conseguir o selo de “bom pagador” de volta.
Analisando alguns indicadores macroeconômicos desses dois grupos de países verificamos que o grupo que se recuperou mais rapidamente estava, comparativamente ao segundo grupo, melhor estruturado no que diz respeito à sua dívida pública, à sua taxa de poupança e aos seus indicadores de inflação. Em outras palavras, conclui-se que quanto maior a razão dívida/PIB, maior a taxa de inflação e menor o nível de poupança, mais lenta tende a ser a recuperação do grau de investimento. Ou seja, o ajuste nas contas públicas, bem como o controle da inflação e a capacidade de o país se financiar são determinantes para recuperar a confiança dos investidores.
O Brasil, nesse sentido, se aproxima mais do segundo grupo, cujos países, logo após receber o downgrade, possuíam a razão dívida/PIB em torno de 70%; a taxa de poupança abaixo de 15% e a inflação anual em dois dígitos. Ou seja, o Brasil está muito mais próximo dos países que demoraram, em média, uma década para voltar a serem vistos pelas agências de risco como “bons pagadores”. Tal análise, contudo, considera apenas fatores estritamente macroeconômicos, sem levar em consideração fatores políticos, por exemplo.
O caso brasileiro
Em 2008, segundo ano do segundo mandato do governo Lula, o Brasil obteve da Standard & Poor’s seu primeiro “investment grade”, dada a manutenção da política de austeridade fiscal do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Em 2011, primeiro ano do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, o selo de “bom pagador” foi dado pelas duas outras agências. Contudo, no decorrer dos demais anos dos dois mandatos de Dilma, uma série de tropeços na condução da política econômica mudaram o cenário macroeconômico brasileiro: incentivos fiscais indiscriminados, políticas populistas de intervencionismo estatal e investimentos equivocados. Tais políticas resultaram em um aumento da dívida pública que arruinou os alicerces da austeridade fiscal conquistada a duras penas no passado. As recentes tentativas de ajuste fiscal, por sua vez, foram desastrosas ao bater de frente com uma crise política deflagrada por denúncias de corrupção.
Assim, observa-se que em apenas quatro anos o governo da presidente Dilma conseguiu colocar abaixo as bases que remetem ao Plano Real e à criação da Lei de Responsabilidade Fiscal, na primeira metade da década dos 90s, e que sustentaram as políticas de controle da inflação, de manutenção do câmbio flutuante, de geração de superávit primário, de diminuição do nível de endividamento. Tais políticas, por sua vez, permitiram ao Brasil conquistar o seu primeiro “investment grade” da história. É lamentável em tão pouco tempo vivenciar a desconstrução dos fundamentos econômicos que levaram mais de 15 anos para serem erguidos.