A chamada “superquarta”, jornada de acontecimentos relevantes que aconteceu ontem (quarta-feira, 13 de setembro) nos cenários político, jurídico e policial da capital federal, Curitiba e Porto Alegre parece que nem fez cosquinhas no mercado financeiro e, muito pelo contrário, atiçou o apetite dos investidores. A bolsa de valores bateu recorde e as cotações do dólar, em baixa, sugerem, pelo menos, que os humores estão melhorando. Estavam em jogo eventos que afetam os destinos do presidente Michel Temer (PMDB) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e do ex-ministro José Dirceu (PT), além de novos capítulos da novela Joesley Batista (dono da J&S), das regras para as eleições de 2018 e até as normas para o novo Refis. Embora o lamaçal no campo político-empresarial-policial não pare de transbordar, a economia anseia respirar novos ares.
O Índice Bovespa teve nesta quarta-feira, 13, sua terceira alta consecutiva e renovou seu recorde histórico ao marcar 74.787,56 pontos, com ganho de 0,33%. As ordens de compra continuaram a ser motivadas por fatores relacionados à recuperação da economia e à expectativa de avanço da reforma da Previdência. Destacamos ainda um tom positivo que pairava nos ares do mercado em relação à expectativa de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, seja candidato a presidente nas eleições de 2018. O dólar, por sua vez, operou em alta praticamente todo o dia, com ganho de 0,35% (mercado à vista), aos R$ 3,1385, seguindo o comportamento da divisa no exterior e em continuidade à perspectiva de fortalecimento da equipe econômica. A força maior veio do exterior depois que o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Paul Ryan, disse que a apresentação do projeto de reforma tributária deve ocorrer em 25 de setembro. No mercado futuro, o dólar para outubro subiu 0,32%, aos R$ 3,1415.
Na avaliação da REAG, os agentes econômicos interpretam os percalços no campo político-policial como cada vez menor a probabilidade de o presidente Temer ter seu mandato encurtado, e assim cada vez maior a as chances de encaminhamento das reformas no Congresso. Todos já caíram na real e agora têm certeza de que não teremos a desejada e necessária Reforma da Previdência, por exemplo, mas pelo menos acreditam que ocorrerão alguns ajustes capazes de retardar o que poderia ser um eventual colapso das contas públicas com efeitos evidentemente devastadores. Isso não quer dizer que a economia e o mercado financeiro se descolaram efetivamente do imbróglio político-policial. Política e economia andam sempre de mãos dadas. Ou seja, é impossível haver esse tipo de descolamento na vida rela, mas é admissível um certo distanciamento, mesmo que temporário em relação aos incômodos que, infelizmente, continuam ocupando as manchetes no noticiário policial.
Além disso, a menor probabilidade de um impeachment de Temer tem como pano de fundo a inflação e os juros em queda, além dos sinais benignos de que o consumo doméstico começa a reagir. Expectativas e confiança com viés positivo são fundamentais para a retomada da economia, mas de qualquer forma recomendamos muita prudência porque ainda não é possível projetar assertivamente a consistência, resistência e durabilidade de todo esse lamaçal. É possível que estejamos vivendo apenas o último suspiro do morto? Sim, é possível, mas pouco provável. Contudo cautela e canja de galinha, como dizia a minha vó, não fazem mal a ninguém. Dizemos isso porque os desejados processos efetivamente transformadores no campo da economia estão sempre condicionados à concretização das reformas estruturais, seja ela tributária, trabalhista, política ou previdenciária, capazes de devolver um nível de confiança mínimo e confortável aos investidores.