A boa performance das indústrias alimentícia e farmacêutica, explicada pela melhora do ânimo do consumo doméstico justifica, em grande parte, o resultado positivo da indústria brasileira no mês de outubro, que apresentou crescimento de 0,8% na comparação com o mês imediatamente anterior (setembro de 2019), informou o IBGE. Essa leitura condiz com a terceira alta mensal consecutiva do setor e o melhor resultado para o mês de outubro desde 2012, quando a produção industrial registrou expansão de 1,5%. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a indústria também registrou desempenho satisfatório, com expansão de 1%, após alta de 1,1% em setembro, quando interrompeu três meses de resultados negativos seguidos.
Em linhas gerais, é factível afirmar que o bom resultado da produção industrial brasileira vem sendo influenciado pela melhora do humor da demanda doméstica e por uma pequena e ainda discreta melhora no mercado de trabalho. E ânimo do consumo interno, por sua vez, tem sido estimulada por uma combinação de fatores conjunturais à produção industrial nos últimos três meses: inflação bem-comportada, taxa de juros menor, maior acesso ao crédito, gradual melhora do mercado de trabalho, aumento na massa de rendimentos, além de liberação de saques do FGTS e proximidade das vendas no final do ano, com a Black Friday e Natal. Ou seja, a recuperação foi impulsionada pelos bens de consumo.
Apesar dos números animadores para o mês de outubro, nos dez primeiros meses de 2019, o setor industrial acumula queda de 1,1% e no acumulado dos últimos 12 meses a retração na produção industrial é de 1,3%. Ou seja, a despeito dos números animadores nos últimos meses, os ganhos acumulados entre agosto e setembro, de 2,4% (na série com ajuste sazonal), ainda não foram suficientes para superar as perdas. Adicionalmente, a categoria de bens de capital ainda mostra comportamento errático. Em outubro ante setembro, a fabricação de bens de capital encolheu 0,3%, após um recuo de 0,4% na leitura do mês anterior. Na passagem de setembro para outubro, houve impacto da redução na produção de caminhões e de máquinas para o setor agrícola. Outro empecilho à recuperação dos bens de capital é o elevado ambiente de incertezas, que inibe decisões de investimentos por parte do empresariado.
Além disso, o desempenho positivo em outubro ante setembro reduziu ligeiramente a distância entre o patamar de produção atual e o ponto mais elevado já registrado na série histórica da pesquisa Industrial Mensal. Em outubro, o patamar de produção estava 15,8% menor que o auge alcançado em maio de 2011. No mês de outubro, a fabricação de bens de capital estava 33,8% abaixo do pico de produção registrado em setembro de 2013, enquanto os bens de consumo duráveis operavam 23,2% aquém do ápice de produção visto em junho de 2013. Já os bens intermediários estavam 15,9% abaixo do pico visto em maio de 2011, e os bens de consumo semi e não duráveis operavam 8,9% aquém do auge registrado em junho de 2013.
Apesar do otimismo despontando no horizonte, muito provavelmente a produção industrial deverá fechar o ano com perda de 1%, devendo voltar a crescer somente em 2020.
O recentes números da PIM apimentam o otimismo do mercado, com a economia apontando para um ponto de virada, que começou a se materializar em setembro. De lá para cá, uma rodada de indicadores passou a ganhar ritmo. Entre os primeiros dados a surpreender, destacamos o IBC-Br, as vendas no varejo e atividade do setor de serviços em setembro que despertaram a percepção de retomada e de que o País se afastava da estagnação. Depois, também o emprego apresentou alguma reação, embora a análise mais aprofundada desse resultado demanda parcimônia. Confirmando estes sinais da recuperação que começaram a aparecer nos dados de três meses atrás, o IBGE informou ontem que o PIB/3TRI cresceu acima do esperado na margem (+0,60%), superando a mediana (+0,40%). Ainda o PIB do ano passado foi revisado em alta, de um crescimento de 1,1% para 1,3%. Na nossa leitura, esses números nos permitem afirmar que estamos saindo da estagnação, com perspectivas de crescimento ainda tímido e receoso para o ano que vem.