Puxado por educação, alimentação e transportes, o IPCA-15, que é considerado uma prévia da inflação oficial no país, registrou alta de 1,42% em fevereiro superando as expectativas do mercado, que projetavam elevação de 1,3%. Mais uma vez, um índice de inflação vem acima das previsões dos economistas. Parece que já vimos esse filme antes. Ao longo de todo o ano passado os indicadores de inflação superaram as expectativas do mercado, cujo efeito inercial ainda se perpetua e deverá se perpetuar ao longo de 2016. A REAG aposta que o IPCA certamente ficará acima de 8% neste ano com grandes probabilidades de chegar próximo a 9%.
A persistência inflacionária tem intrigado este ano, dado que à luz da recessão, a qual reflete queda no consumo e alta no desemprego, o que seria razoável esperar que as pressões inflacionárias estivessem se arrefecendo a essa altura. Então o que de fato está acontecendo? De fato, uma série de fatores que ocorreram no ano passado puxaram a inflação para o patamar de 10%: aumento dos preços administrados pelo governo que estavam defasados em função de manobra eleitoreira, como eletricidade e combustíveis; desvalorização do real frente ao dólar em função da queda dos preços das commodities e da piora do risco país (deterioração do quadro fiscal ao longo dos últimos anos), e impacto de algumas medidas tributárias que visam melhorar o saldo das contas públicas mas elevam o custo do produtos.
Todos estes fatores são transitórios e, portanto, deveriam desaparecer com o passar do tempo, além do fato de que o aumento do desemprego e a queda produção industrial deveriam por si só reduzir os índices de inflação. Contudo, o que se vê é que a inflação em 2016 continua superando as expectativas do mercado…
Acreditamos que a persistência da inflação em 2016 tem um forte componente inercial. O que é bastante sério, pois isto significaria que jogamos fora todo um trabalho feito durante mais de uma década para ancorar nossa inflação. Mas o que estaria causando esta inércia?
O efeito inercial provém do lado dos custos, com a indexação do salário mínimo à inflação passada criando uma base de referência para as negociações dos reajustes salariais. Isso se sustenta ao constatar que várias categorias de trabalhadores tenham conseguido reajustes próximos a 10% a.a., mesmo com as taxas de desemprego nas alturas. Pressionadas pela elevação dos salários, as empresas veem suas margens de lucro cair e decidem corrigir seus preços mesmo que isto represente maior queda nas vendas. Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar reduziu a competitividade dos bens importados, o que permite que produtores locais aumentem seus preços visando proteger suas margens.
Caso a inflação se desvie substancialmente e com frequência da meta estabelecida pelo Banco Central (em 4,5% a.a.), a política de meta inflacionária perde sua força como âncora das expectativas e os agentes passam a procurar outras referências indexadoras. Numa economia mais aberta, o câmbio serve como tal âncora. Numa economia fechada como a brasileira, dada a elevada volatilidade do câmbio, os agentes passam a recorrer à inflação passada como referência para seus reajustes de preços. Para aqueles que viveram a hiperinflação dos anos 80 e 90, esse cenário remete a memórias nada agradáveis.
IPCA-15
A alta de preços no IPCA-15 de fevereiro foi puxada pelo grupo Educação teve alta de 5,91% em fevereiro, seguida por alimentos, que subiram 1,92% e pelo grupo transportes, com expansão de 1,65%. Esse aumento foi influenciado pelo reajuste das mensalidades escolares no início de ano: o preço de cursos regulares ficou 7,41% mais caro.
O IPCA-15 segue a mesma metodologia do IPCA, que é o índice usado pelo governo na meta de inflação do país. As únicas diferenças são o período de coleta de preços e a abrangência geográfica.
fonte: Valor Data
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