A retomada do crescimento econômico já é fato: estamos saindo da recessão, mas certamente a velocidade da recuperação será lenta e gradual, com possibilidade de solavancos por conta do ambiente político. Em outras palavras, a atividade deixou o fundo do poço e está reagindo lentamente. Esse é o parecer da REAG após analisar os dados do PIB no terceiro trimestre deste ano, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. No 3T17, a economia brasileira cresceu apenas 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Por um lado, foi o terceiro crescimento seguido nessa base de comparação, mas por outro lado o número representa uma queda em relação às divulgações anteriores – que tiveram altas de 1,3% e 0,7%. De qualquer forma, nas diferentes bases de comparação (vide gráficos abaixo) é notável a tendência de recuperação.
Pelo lado da oferta, dos três setores pesquisados, dois subiram em relação ao período de abril a junho, com um crescimento mais difuso. A indústria cresceu 0,8%, e serviços teve alta de 0,6%. O setor industrial se recuperou após uma queda no período anterior, puxado pela indústria de transformação. Os serviços, que respondem por quase dois terços da economia nacional, tiveram alta pelo terceiro trimestre seguido neste tipo de comparação. No sentido contrário, o principal motor da alta no primeiro trimestre – e que também teve desempenho bom no segundo – o setor agropecuário recuo 3% nos três meses até setembro. Contudo, vale a ressalva de que a agropecuária apresentou crescimento recorde no começo do ano, por conta da supersafra, distorcendo um pouco a leitura do PIB nos primeiros meses de 2017.
Nossa análise pelo lado da demanda, por sua vez, aponta que o consumo segue em recuperação, com destaque para a reação dos investimentos. Os dados divulgados hoje indicam que as condições continuam favoráveis para que as famílias aumentem o consumo. Esse indicador subiu 1,2%, a terceira alta seguida. Dentre os motivos estão a inflação em patamares baixos e o aumento da massa salarial, influenciado também pela queda no desemprego. Mas o destaque no terceiro trimestre ficou por conta da formação bruta de capital fixo, um termômetro dos investimentos realizados por empresas no país, que avançou 1,6% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Nessa base de comparação, foi a primeira alta desde 2013, após 15 trimestres.
Para os próximos trimestres, a REAG projeta que o crescimento do PIB siga em nível próximo ao limiar da neutralidade, sem surpresas por conta do juro e da inflação em baixa. O consumo deve seguir em alta impulsionado pela melhora marginal nas condições do mercado de trabalho e da tímida reação da indústria em função das exportações. Contudo, a elevada ociosidade do estoque de capital, bem como a incerteza do quadro político-eleitoral deverão constituir ventos contrários ao levante do investimento. Ademais, os investimentos públicos federais e regionais não deverão crescer em 2018, em função do processo restrição fiscal em curso.
Em um cenário macro para 2018 de política monetária expansionista– com a Selic média nominal em torno de 7% a.a. – e de uma modesta aceleração do comércio global, mantemos nossa posição de que o crescimento do PIB brasileiro no ano que vem não deverá ir muito além dos 2,8%, com baixa probabilidade de que o crescimento seja muito superior a 3%, como já projetam alguns analistas e como parece estar embutido nos preços dos ativos financeiros domésticos.
Mais adiante, o desfecho do processo político presidencial em 2018 poderá ser favorável ou desfavorável, a depender das sinalizações de política econômica e de continuidade da agenda de reformas. Em outras palavras, 2019 poderá ser um ano excepcional em termos de taxa de crescimento do PIB (com expansão além dos 3% a 4%) ou poderá representar um arrasto em direção à estagnação.