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Perspectiva Econômica e do Mercado Financeiro: setembro/19

Agosto trouxe grandes desafios e menor propensão ao risco: trade war, Argentina, corte de juros e rusgas políticas

Uma menor propensão ao risco dominou o panorama econômico doméstico e internacional no mês de agosto. As incertezas acerca do cenário externo, com destaque para as preocupações com o crescimento global, pesaram nos mercados ao redor do mundo, e o Brasil não saiu ileso. Como pano de fundo para o fraco desempenho do mercado doméstico no mês passado, destacamos as tensões comerciais entre os EUA e a China, dados fracos de atividade na Europa, crise na Argentina, yuan caindo ao menor nível em uma década, corte de juros pelos Bancos Centrais e muito bate-boca entre o presidente Bolsonaro e seus interlocutores internacionais.

A mudança de perspectiva com relação à extensão da guerra comercial travada entre Estados Unidos e China, com piora da confiança e aumento das incertezas, tem servido de munição para uma postura mais defensiva no mundo em termos de investimento. Assim, o momento anda menos favorável à tomada de riscos, o que favorece a alocação em ativos mais seguros, nos Estados Unidos, e pressiona mercados emergentes. O Brasil, contudo, ainda é visto como uma alternativa menos pressionada nesse ambiente.

As moedas de países em desenvolvimento tiveram o pior agosto em pelo menos 22 anos, minando uma aposta de carry trade (operações para obter ganhos com o diferencial de juros entre os países) que apenas começava a se tornar positiva. Além disso, as vendas de títulos em dólares caíram para o nível mais baixo em 42 meses. No total, ações de mercados emergentes perderam USD 873 bilhões em valor de mercado em agosto, quando a guerra comercial EUA-China se intensificou.

No mês passado, o câmbio BRL/USD registrou a maior alta mensal em 4 anos. A perspectiva de desaceleração global, com pioras das economias alemã e chinesa, pressionou a fuga de ativos de risco, como mercado de ações e investimentos em países emergentes, para ativos mais seguros, como dólar, ouro e títulos do tesouro americano. Tal movimento levou a Bolsa brasileira a ter uma queda de 0,67% em agosto, segundo pior desempenho do ano, atrás do recuo de 1,86 de fevereiro.

A desaceleração da economia global também começou a afetar as exportações brasileiras, que encolheram de janeiro a julho, depois de crescerem por três anos consecutivos nesse período. A crise argentina responde por grande parte desse resultado. No curto prazo, não há perspectivas de solução, visto que nossos hermanos passam por um processo eleitoral e, ao que tudo indica, será assumido por um governo de oposição. Ou seja, muito provavelmente teremos uma mudança na agenda da política econômica argentina.

O debate em torno das queimadas na Amazônia aquece os ânimos, acirra os debates e produz muita volatilidade, sem gerar efetivamente grandes soluções. O discurso do governo de ataque às ONGs destoa e as advertências de governos europeus, por sua vez, não conseguem disfarçar o protecionismo comercial e o oportunismo político.

A agenda doméstica permanece benéfica e avança, o que destacamos positivamente. A Reforma da Previdência está próxima de uma aprovação final no Senado, quase sem diluição em relação ao aprovado na Câmara. Enquanto isso, a discussão em relação à Reforma Tributária começa a ganhar corpo e outras agendas começam a despontar. As sinalizações mostram que aparentemente estamos na rota correta.

Neste contexto, apesar da volatilidade externa, esperamos crescimento estável em 2019, mais cortes para a Selic ainda este ano e boas oportunidades de investimentos no mercado de capitais.

   Em agosto, dólar tem maior alta mensal em 4 anos

Para o mês de agosto, a taxa de câmbio BRL/USD acumulou alta de 8,15%, a maior valorização mensal desde setembro de 2015, período marcado pela entrada do Brasil em recessão técnica, crise fiscal e desaceleração da China, quando o dólar foi a BRL 4,20, máxima histórica nominal. Neste ano, o pico de BRL 4,172, alcançado em 29 de agosto último, também tem entre suas causas o enfraquecimento da economia chinesa. Em agosto, dados mostraram que a produção industrial chinesa desacelera para uma mínima de mais de 17 anos. Um dos motivos e agravantes desse movimento é a guerra comercial com os Estados Unidos, que já dura mais de um ano e meio. Nas últimas semanas, o conflito se intensificou, com o aumento de tarifas de importações entre os países, que deve entrar em vigor a partir de setembro. Pesaram também contra a moeda doméstica a crise na Argentina, a queda de popularidade do governo Bolsonaro e o inquérito da Polícia Federal contra Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segundo pesquisa do Instituto MDA e da CNT, a avaliação positiva de Bolsonaro caiu de 39% para 29% em agosto, enquanto a percepção do governo ruim ou péssimo atinge 39,5% dos brasileiros, contra um percentual de 19% em fevereiro. Adicionalmente também foi divulgado o inquérito da PF que atribuiu a Maia, fiador das reformas, os crimes de corrupção passiva, falsidade ideológica eleitoral (caixa dois) e lavagem de dinheiro em esquemas da Odebrecht. A REAG elevou suas projeções para o dólar ante o real para os próximos trimestres e agora vê a moeda americana em BRL 4,15 ao fim de setembro.

PIB no 2T19, desemprego e reformas com viés positivo

A despeito da incerteza e volatilidade externa, a agenda doméstica no mês de agosto apresentou algumas surpresas e notícias positivas. Contribuíram para o viés positivo o PIB do segundo trimestre de 2019, melhor que o esperado pelo mercado, a criação de novas vagas de trabalho e o debate sobre outras reformas além da previdenciária, que até agora tem dominado a pauta. A economia brasileira cresceu 0,4% no período, dobro do previsto. Além disso, o desemprego recuou em julho, com recorde de vagas no mercado informal. Além disso, a agenda doméstica permanece robusta e avança, com a Reforma da Previdência no Senado, intensificação da discussão de uma Reforma Tributária mais simplificada, privatizações, a potencial Reforma Administrativa e o marco regulatório do saneamento e do gás.

Crise na Argentina

Além de uma maior tensão entre EUA e China, que gera aversão a risco nos investidores, a Argentina teve sua crise agravada com o resultado das primárias das eleições presidenciais. Em 11 de agosto, o candidato kirchnerista Alberto Fernández registrou a maioria das intenções de voto —o suficiente para ganhar a disputa em primeiro turno. Investidores ficaram temerosos com a provável eleição da oposição e com o risco de que a Argentina não honre suas dívidas. A Bolsa argentina refletiu o cenário negativo e desvalorizou 40% em agosto, pior queda em um mês na história do índice Merval. O peso argentino também foi pressionado e desvalorizou 35% em relação ao dólar no período, pior desempenho em um ano. A moeda americana chegou a valer 60 pesos, maior patamar nominal da história. Com a desvalorização do peso, fica mais difícil para a Argentina pagar as dívidas, muitas delas em dólar. O governo, então, decidiu declarar moratória (adiar o prazo de pagamento) de parte de sua dívida de curto prazo e renegociar as de médio e longo prazos, inclusive a parcela referente a empréstimos com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Devido ao cenário doméstico, o peso argentino teve o pior desempenho dentre os emergentes em um período que todas, com exceção do Baht tailandês, se desvalorizaram. O real foi a segunda pior moeda emergente em agosto, com uma desvalorização bem maior que o terceiro colocado, o peso mexicano, que recuou 4,6%.

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Economista-Chefe

simone.pasianotto@reag.com.br

 

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Estrategista-Chefe

andre.cao@reag.com.br

 

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