O que aconteceu em setembro/19…
Bancos Centrais intensificam expansão monetária e arrefecimento da guerra comercial melhoram ânimos
Setembro foi um mês positivo para o cenário econômico-financeiro de forma geral. Os bancos centrais ao redor do mundo intensificam processo de expansão monetária: Fed (Banco Central nos Estados Unidos) reduziu os juros básicos, enquanto o BCE (Banco Central Europeu) e o PBoC (Banco Popular da China) anunciaram diminuição da taxa de depósito compulsório. No Brasil, o corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros reaqueceu a discussão de juros mais baixos por mais tempo do que se imaginava, sustentando o índice Ibovespa no relativo aos mercados globais. Esperamos mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual cada na Selic até o fim de 2019, levando a taxa básica de juros para 4,5%.
Além do movimento de afrouxamento monetário pelo mundo, observou-se certo otimismo na primeira quinzena do mês basicamente por conta do arrefecimento da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Essa entoada dominou a retórica, pressionando para cima os mercados globais e o Ibovespa. Essa melhora do humor, contudo, ficou estremecida ao longo da segunda quinzena de outubro basicamente por conta das tensões geopolíticas no Oriente Médio e da abertura do processo de impeachment do presidente norte-americano. Apesar de baixa a probabilidade de sucesso no Senado, a ameaça de impeachment certamente traz volatilidade.
No âmbito doméstico, contudo, a atividade econômica permanece fraca: investimento em capital fixo não deslancha e desemprego recua apenas marginalmente. Apesar do afrouxamento na política monetária doméstica, a agenda de privatizações e a credibilidade internacional demando maior robustez para que a retomada da confiança do empresário local seja retomada. Do lado das reformas, apesar de atrasos na votação da reforma da previdência no Senado, a expectativa ainda é de aprovação na primeira quinzena de outubro. Nesse contexto, esperamos aceleração da atividade econômica ainda de maneira gradual.
Cenário internacional ainda volátil, mas menos nervoso
O mês de setembro foi intenso nos mercados globais, com a percepção mais aguçada dos investidores em relação à desaceleração da economia global, a partir de dados consistentemente mais fracos da economia americana. Embora receios crescentes permaneçam, tivemos evoluções positivas durante o mês, com ligeiro arrefecimento dos ânimos no que diz respeito à guerra comercial entre China e Estados Unidos. Além disso, desdobramentos do Brexit trouxeram certa volatilidade aos mercados de ações e commodities, além do choque adverso gerado pelo atentado à refinaria de petróleo na Arábia Saudita, que fez os preços do petróleo dispararem mais de 19% no dia após o ataque.
O anúncio de uma possível retomada das negociações comerciais entre China e EUA, o adiamento do aumento das tarifas americanas sobre produtos chineses, além das isenções tarifárias da China sobre produtos norte-americanos e o aumento das importações agrícolas dos EUA apaziguaram os mercados. Na nossa visão, a atual conjuntura deve pressionar o presidente Donald Trump a chegar a um acordo com os chineses, aumentando suas chances de reeleição em 2020.
Quanto à desaceleração do crescimento global, destacamos algumas contrapartidas positivas pelo lado chinês, sinalizando seu compromisso na mitigação dos efeitos da guerra comercial com os EUA: (i) os dados de atividade surpreenderam positivamente, sugerindo leve retomada da economia chinês e (ii) anúncio de medidas visando o estímulo à atividade pelo PBoC (Banco Central da China).
Enquanto isso, na Europa, ao longo do mês repetiram-se dados fraco da atividade e intensificaram-se os riscos de uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo. Por outro lado, o anúncio pelo Banco Central Europeu de um pacote de estímulos reduziu uma maior percepção de risco pelo mercado. Destacamos ainda positivamente, a assinatura de um acordo comercial bilateral entre Japão e EUA, que muito possivelmente permitirá uma maior abertura do mercado japonês aos produtos norte-americanos, enquanto tarifas dos EUA sobre produtos japoneses serão reduzidas.
Juros mais enxutos no Brasil e no mundo por mais tempo
Basicamente em funções da maior estagnação da economia mundial, o cenário de juros internacionais mais baixos por mais tempo tem se solidificado no horizonte, com corte nos juros básicos das principais economias do mundo em setembro. Totalmente em linha com as expectativas de mercado, o Banco Central dos EUA (Fed) cortou sua taxa de juros em 0,25 ponto porcentual para o intervalo entre 1,75% e 2%. O discurso do presidente do Fed, contudo, mostrou menor possibilidade para cortes adicionais no futuro, contrariando expectativas do mercado. A depender do final feliz nos próximos capítulos da guerra comercial entre EUA e China, alertamos para a possibilidade de mais um corte de 0,25 ponto porcentual ainda este ano. Entretanto, se a novela comercial se alongar, é possível o Fed colocar a sua taxa para abaixo de 1% no final de 2020.
E o cenário positivo de afrouxamento das taxas de juros também se viu no Brasil. Em sua última reunião, o Copom surpreende, mas não pelo corte de 0,5 ponto porcentual, e sim pelo tom usado para sinalizar o rumo da política monetária. A soma de um cenário internacional recessivo e de uma inflação doméstica bem-comportada, deixou no ar que a intensidade de cortes na taxa básica de juros pode ir abaixo de 5% neste ano e permanecer praticamente estável em 2020. Assim, a curva de juros futura despencou ainda mais, já precificando no contrato de janeiro/2020 taxas de juros abaixo de 5%: hoje, 90% do mercado projeta um corte de mais 0,5 ponto porcentual na reunião do Copom em outubro e é praticamente unânime a projeção de um corte de 0,25 ponto porcentual na reunião de dezembro. Assim, o cenário base do mercado é de uma Selic em 4,75% no final deste ano.
Previdência se arrasta no Senado e aumenta incerteza política
O mês de setembro foi marcado pelo aumento das incertezas no campo político, com falhas da articulação do governo abrindo espaço para desidratação da Reforma da Previdência. A pauta foi adiada, basicamente em função da reação do Senado à operação da Polícia Federal contra o líder do governo, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB PE). As desidratações à reforma, que antes eram mínimas, agora ganham força por conta do “fogo amigo” do governo. Concomitantemente, convivemos ao longo do mês de setembro com a “bateção” de cabeça em torno da recriação da CPMF e consequente sáida do então Secretário da Receita, Marcos Cintra, sem contar com as discussões sobre uma possível flexibilização do teto de gastos devido à rigidez do orçamento do governo nos próximos anos. Apesar dos embates no campo político impactarem uma maior aversão a risco, a agenda de reformas segue avançando.
Para a reforma tributária, a expectativa é de o governo enviar a proposta com texto enxuto e criação de um IVA federal ainda em outubro ou mais tardar novembro. O mercado não trabalha com a primeira aprovação na Câmara ainda em 2019, dada a complexidade do tema e a morosidade na tramitação. Destacamos também algumas agendas setoriais em curso com maior ou menor grau de avanço, como (i) a revisão do marco regulatório do setor de saneamento básico, (ii) leilão dos barris de petróleos excedentes da Cessão Onerosa e (iii) privatização da Eletrobras.
Atividade continua patinando
As expectativas em torno da atividade doméstica para os próximos anos ainda deixam a deseja, com as projeções distantes da taxa média histórica de crescimento do PIB em torno de 3%, entre 1999 2014. A Formação Bruta de Capital Fixo se mantém imóvel, basicamente por conta da ociosidade da capacidade instalada e pela falta de ímpeto do empresariado para investir. Se antes uma taxa de juros abaixo de 5% era um sonho de país desenvolvido, que impulsionaria o crédito e, portanto, a oferta, hoje ela consegue apenas desalavancar o balanço das empresas.
O desemprego também não recua, por conta da fraca demanda que acomete o país desde meados de 2015. A taxa de desemprego pouco caiu desde meados de 2016, auge da série histórica. Baixo crescimento é um dilema, mas é um movimento global: Europa sofre com alto desemprego, enquanto EUA e China veem suas economias desacelerando. O cenário externo conturbado não tem ajudado na recuperação doméstica.
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