A forte aceleração da inflação nas últimas semanas, com pressão mais pronunciada nos preços alimentos, reverte a tendência de desaceleração de fevereiro e março, configurando-se como um revés na missão do Copom em deflagrar o afrouxamento na política monetária. Na opinião da REAG, a decisão de o Banco Central iniciar um ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic) deve ser adiada para outubro. Esse suspiro da inflação está associado à pressão dos preços agropecuários no atacado com repasse de custos para os preços dos alimentos, que por sua vez, contaminam os demais itens dos índices de preços por conta da sua maior inelasticidade. O IPCA de maio registrou alta de 0,78%, resultado acima dessa leitura em abril (+0,61%), enquanto a inflação medida pelo IGP-DI saltou para 1,13% em maio, ante alta de 0,36% em abril.
A inflação medida pelo IPCA justifica-se pela elevação nas tarifas de água, esgoto e energia elétrica, além do aumento nos gastos com fumo e vestuário (sazonalidade). Esperamos que a pressão dos ajustes tarifários recue nos próximos meses, assim como o preço do cigarro e do vestuário. Contudo, apesar de o grupo alimentação e bebidas ter arrefecido entre o IPCA-15 de maio e o resultado fechado do mês passado, projetamos que este grupo continue perdendo fôlego até o final de junho, podendo voltar a impactar o IPCA em agosto por conta do repasse dos preços no atacado.
A aceleração dos IGPs (tanto o IGP-DI quanto o IGP-M) esteve apoiada nos preços agropecuários no atacado, os quais deverão se manter pressionados ainda em junho. Os preços industriais também vieram elevados em maio e abril e deverão se manter em alta por conta dos desdobramentos da aceleração dos produtos agropecuários no atacado (produtos de papel, derivados de petróleo e álcool, produtos químicos, etc.). Já em relação ao varejo, esperamos certo arrefecimento nos preços a partir de junho devido a perda da força dos reajustes nos medicamentos, nas tarifas de agua e esgoto e nos cigarros. Em relação aos gastos com construção, a REAG projeta aumento por conta basicamente de dissídios salariais. Projetamos que os IGPs continuem acelerando até o final de junho, com alta próxima de 1%, podendo perder força a partir de julho.
Acreditamos que os efeitos da valorização dos preços dos alimentos no atacado devam chegar ao consumidor final em dois meses. Estimamos que se o preço da soja se mantiver nos atuais patamares, em um cenário otimista, deverá impactar em pelo menos 0,5% no custo médio da carne em junho e de até 0,8% em julho. A depender da intensidade, a REAG já considera maior a probabilidade de a inflação neste ano ultrapassar os 7% previstos, com possível elevação da projeção para 2017 para 6%.