O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) aumentou as taxas de juros do país em 0,25 ponto percentual, para um intervalo entre 0,75% e 1%. O movimento foi impulsionado pelo crescimento econômico estável, melhora no mercado de trabalho, ganhos de produtividade e confiança de que a inflação está subindo para o alvo do banco central norte-americano. Nessas circunstâncias, reiteramos nossa perspectiva de que no curto prazo a condução da política monetária nos EUA não impactará significativamente a posição nos mercados internacionais de ativos e moedas, nem tampouco pressionará significativamente o risco-país e a taxa de câmbio no Brasil. Esse é o segundo aumento em três meses. O comunicado da decisão mantém a perspectiva de que haverá duas novas altas dos juros em 2017 e outras duas em 2018. Assim, a taxa deve chegar a um intervalo entre 1,50% e 1,75% no fim deste ano e para algo entre 2,50% e 2,75% no fim de 2018.
A decisão veio em linha com a nossa expectativa e com a expectativa largamente preponderante nos mercados. O comunicado da decisão veio praticamente sem alterações visando sustentar o nível de confiança dos agentes econômicos. Na nossa avaliação, a elevação de juros nos Estados Unidos reflete o fortalecimento da maior economia do mundo, com mercado de trabalho mais robusto, taxa de desemprego em queda e menor pressão inflacionária. A taxa de desemprego está em 4,7% e a inflação ao consumidor em 2,7% – já acima da meta, mas ainda considerada sob controle, uma vez que o núcleo de inflação está abaixo de 2%.
Em outras palavras, os ganhos de produtividade da economia americana permitem que esse movimento seja feito de forma gradual e sem prejuízos relevantes à economia mundial. O processo de alta de juros deve durar até o final de 2019, quando a taxa deve chegar a 3% ao ano, valor ainda abaixo da média histórica. Isso ocorre porque os Estados Unidos têm apresentado ganhos de produtividade, o que faz com que a inflação fique sob controle apesar do crescimento da economia, ao contrário do que ocorria no passado. O nível de produtividade nos EUA está em torno de 107 pontos, resultado superior aos 95 pontos antes da crise de 2008. Com um mercado aquecido, é necessária a normalização das taxas de juros, que foram a zero com a crise financeira de 2008.
Apesar de o aumento de juros nos EUA ser esperado e estar precificado pelos mercados, não descartamos que no longo prazo contabilizaremos alguma diminuição do fluxo de capitais para os países emergentes, como o Brasil. Por essa razão, as taxas de câmbio podem ficar pressionadas. Contudo não é esperada fuga de capitais, mas sim uma redução do fluxo. As mudanças que o Brasil tem implementado na economia desde o início do ciclo de alta nos Estados Unidos, porém, fazem com que o país esteja mais preparado para lidar com essa alteração no mercado externo.