A fotografia da primeira semana do governo Bolsonaro ainda é a mesma retratada durante toda sua campanha: desnorteamento, cabeçadas, falta de planejamento, declarações desencontradas, ditos e desmentidos, em meio a uma pauta econômica ainda improvisada e esvaziada. Apesar da atmosfera esfumaçada pela esperança da guinada liberal, os primeiros dias de Bolsonaro à frente do Planalto passaram insegurança aos investidores e ao meio político, deixando evidente a fogueira de vaidades entre Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil).
Os desencontros de Bolsonaro com sua equipe acendem inquietações acerca da capacidade de o novo presidente orquestrar as urgentes pautas da agenda econômica. Alguns pontos saltaram aos olhos: as confusões em torno do IOF, da redução do imposto de renda e a reforma da previdência, cujas declarações de Bolsonaro criaram perplexidades na equipe econômica e desmentidos da Casa Civil.
Na manhã da sexta-feira (dia 4 de janeiro) Bolsonaro afirmou que haveria um aumento na alíquota do IOF, mas a medida foi descartada horas depois. No final da tarde, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o presidente “se equivocou”. Antes da negativa de Onyx, o secretário especial de Receita Federal, Marcos Cintra, já havia negado as medidas anunciadas e afirmou que deveria ter ocorrido “alguma confusão” na afirmação do presidente.
No mesmo evento pela manhã, Bolsonaro também anunciou a intenção de reduzir a alíquota de uma das faixas do IR. O teto do IR para pessoas físicas, que hoje é de 27,5%, passaria para 25%. À tarde, ao justificar a negativa do aumento do IOF, Onyx afirmou que a redução do IR está sendo estudada pela equipe econômica, mas não confirmou se já há decisão sobre sua futura implementação.
Além disso, na quinta-feira (3 de janeiro), Bolsonaro defendeu uma idade mínima de aposentadoria de 57 anos para mulheres e de 62 anos para homens, segundo ele, de forma gradativa. A proposta, que ainda não foi detalhada nem comentada por integrantes da equipe econômica, atenuaria a reforma da Previdência idealizada pelo seu antecessor, que estabeleceu 65 anos para os homens e 62 para as mulheres.
Entre as polêmicas emergentes desta primeira semana do governo Bolsonaro:
- Reforma ministerial,
- Funai,
- Pose de armas,
- “Despetização” da Casa Civil,
- Políticas LGBT,
- Monitoramento das ONGs,
- Força Nacional no Ceará,
- MEC sem secretaria da Diversidade,
- “menino veste azul, e menina, rosa,
…fica evidente a ausência de uma agenda econômica robusta, que não foi efetivamente apresentada ao longo de toda a sua campanha eleitoral e tão pouco elaborada com afinco pelo governo de transição. O novo presidente do Brasil iniciou seu mandato adotando medidas sociais polêmicas, alinhadas à prometida guinada liberal, mas mostrou-se pouco ávido e empenhado em tirar a pedra no sapato da economia brasileira que impede o Brasil de andar à frente: a reforma da previdência.
Bolsonaro e membros de sua equipe parecem não ter entendido muito bem que as palavras ecoadas de suas bocas no Planalto geram consequências muitas vezes irreversíveis e inibem a confiança dos investidores. As polêmicas dessa primeira semana parecem ressoado no vácuo, com explicações soltas, deixando a impressão de que existe uma lacuna entre as ambições do presidente e a equipe econômica à qual ele confiou a tarefa de resgatar a economia brasileira.
A impressão que fica desta primeira semana do governo Bolsonaro é haver muitos gestos em direção a um movimento liberal, mas efetivamente com pouco conteúdo estratégico e assertivo aos problemas efetivamente “sérios” do Brasil. Acreditamos que o teste real para Bolsonaro começará em fevereiro, quando o novo Congresso começará a atuar. Até lá, esperamos a reversão dessa infeliz impressão passada na primeira semana de governo: ideias vazias, intenções desencontradas, cabeçadas desnorteadas, propostas difusas e palavras ao vento.