O IPCA, que mede a inflação oficial no varejo brasileiro, ganhou força e subiu 0,44% em dezembro, acelerando-se em relação à alta de 0,28% registrada em novembro, informou hoje o IBGE. Com isso, o IPCA encerrou 2017 acumulando alta de 2,95%, 3,34 pontos porcentuais (p.p.) abaixo dos 6,29% registrados em 2016. Assim, esse acumulado é o menor desde 1998 (1,65%). O resultado no ano passado ficou abaixo do limite inferior (3%) da meta de inflação de 4,5%, estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que permite oscilação de até 1,5 p.p. para baixo ou para cima.
Conforme informações do Banco Central, desde o início do regime de metas de inflação no Brasil, em 1999, em apenas três ocasiões o IPCA encerrou o período corrido de 12 meses próximo ao ponto central da meta (2000, 2007 e 2009). Apenas uma vez, em 2006, aconteceu de a taxa ficar abaixo do centro da meta, mas ainda dentro do limite de oscilação. Em todos os demais anos, a inflação encerrou o ano acima da meta, sendo que por quatro vezes (2002-2004 e2016), superou o teto aceitável, levando o BC a escrever, nessas ocasiões, uma carta aberta à sociedade justificando tal comportamento.
O índice de 2017 foi influenciado, especialmente, pelas despesas com produtos e serviços dos grupos Habitação (com alta de 6,26% e impacto de 0,95 p.p), Saúde e Cuidados Pessoais (com alta de 6,52% e impacto de 0,76 p.p.) e Transportes (com alta de 4,10% e impacto de 0,74 p.p.). Juntos, estes três grupos representaram 2,45 p.p., sendo responsáveis por 83% da taxa. Já o grupo Alimentação e Bebidas, com queda de 1,87% e -0,48 p.p. de impacto, conteve o índice. Em 2017, a produção agrícola ficou, aproximadamente, 30% acima da safra do ano anterior. Com isso, os preços do grupo Alimentação e Bebidas, que detém cerca de 1/4 das despesas das famílias, caíram 1,87%, e o grupo exerceu o principal impacto negativo no índice. Este é o menor resultado (-1,87%) e a única vez que o grupo apresentou deflação no ano desde a implantação do Plano Real. A queda nos preços dos alimentos se deu, especialmente, por conta dos alimentos para consumo em domicílio. Com 15,67% de peso, estes alimentos caíram 4,85%, enquanto a alimentação consumida fora de casa, que pesa 8,88%, subiu 3,83%.
Ficando atrás apenas do grupo Educação (7,11%), onde os cursos regulares (8,37%) se destacaram, o grupo Habitação (6,26%) apresentou a segunda maior variação, sendo responsável, porém, pelo maior impacto de grupo (0,95 p.p). As principais influências vieram de itens importantes na despesa das famílias, como o gás de botijão (16,00% e 0,19 p.p.), a taxa de água e esgoto (10,52% e 0,17 p.p.) e a energia elétrica (10,35% e 0,35 p.p.). Durante o ano de 2017, a Petrobrás autorizou reajuste, nas refinarias, de 84,31% no preço do gás de cozinha vendido em botijões de 13kg. A respeito da gasolina, está em vigor, desde 03 de julho de 2017, a política de preços da Petrobrás que permite que reajuste periódicos em função da taxa de câmbio e das cotações internacionais de petróleo e derivados. Considerando-se a data de 03 de julho, até o dia 28 de dezembro (final da coleta do IPCA de dezembro), foram concedidos 115 reajustes nos preços da gasolina, acumulando um total de 25,49% de aumento. Ainda em julho, houve reajuste na alíquota do PIS/COFINS dos combustíveis.
O Banco Central confirmou, por meio de nota, que publicará a carta aberta do presidente da instituição, Ilan Goldfajn, ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com as justificativas para o fato de a inflação oficial de 2017 ter ficado abaixo do centro da meta de inflação. Pelas regras do regime de metas, sempre que a inflação fugir do intervalo estabelecido, o presidente do Banco Central precisará enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda. No passado, o descumprimento havia ocorrido nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2015. Em todos estes casos a inflação havia ficado acima do teto do intervalo da meta. Em 2017, porém, o problema foi uma inflação muito baixa, inferior ao piso.
Para 2018 nossa projeção é de aceleração, com o IPCA fechando o ano atual entre +4,4% e +4,7%.