Após quatro anos de aperto na política monetário, o Copom reduziu a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 14% ao ano, dando início a novo ciclo de flexibilização dos juros. A decisão foi unânime, anunciada ontem no início da noite, e foi de encontro à previsão da REAG. Foi o primeiro corte desde outubro de 2012, quando a Selic chegou a um piso histórico de 7,25% ao ano, durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. A atitude de iniciar agora a flexibilização da política monetária frente ao atual cenário macroeconômico ainda recessivo foi uma ação politicamente necessária, mas tecnicamente arrojada, em um ambiente que prevê fechar o IPCA de 2016 em 7% e o de 2017 acima de 5%, taxas ainda bastante salgadas frente ao centro da meta em 4,5%.
Na avaliação da REAG, a decisão se pauta em sinais de desaceleração da inflação e indicadores recentes de que a descendente da economia está próxima de chegar ao fundo do poço, mas ainda não chegou. Isso posto, consideramos assertiva a decisão pelo corte mais cauteloso. Se o Copom tivesse ido com mais sede ao pote, optando pela redução de 0,5 ponto porcentual, prejudicaria significativamente a formação de expectativas, desestruturando as bases da credibilidade a ser construída pelo governo Michel Temer. Observa-se que, em pouco mais de três meses de administração, a autoridade monetária já conseguiu um ganho significativo de reversão de expectativas, com as projeções de inflação em 2017 recuando de 5,5% para praticamente 5%. Para 2018, já vão de encontro ao centro da meta. Tudo isso foi assegurado pela postura mais conservadora da nova equipe do Banco Central, conquista que deve ser zelada com cautela.
Como será conduzida daqui para a frente a flexibilização da política monetária dependerá sobremaneira de como se comportará a recuperação da economia e no avanço da proposta do governo no Congresso que limita os gastos públicos, fatores citados no comunicado do Banco Central. Em outras palavras, como será a fome do Copom nos próximos cortes dependerá basicamente do ritmo que o lado fiscal vai andar. É possivelmente aceitável esperar que a Selic feche 2017 em 10% ao ano, mas para tanto o equilíbrio político deve estar bastante alinhado. Ainda é dúbia a interpretação do comunicado do Copom sobre seus próximos passos, o qual afirmou que o comportamento da inflação previsto para o próximo ano e para 2018 permite “flexibilização moderada e gradual das condições monetárias”. A REAG opta por apostar em uma postura mais reservada e conservadora, prevendo um novo corte de 0,25 ponto porcentual na reunião de novembro.