Diante do quadro inflacionário ainda bastante preocupante e em linha com o consenso de mercado, o Copom decidiu elevar nesta quarta-feira (2 de fevereiro) sua taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano, alcançando dois dígitos pela primeira vez em cinco anos, desde abril de 2017, quando ela ficou em 12,25% ao ano. Trata-se da oitava alta consecutiva deste ciclo expansionista, iniciado em março do ano passado, quando a Selic estava em 2% a.a., um piso histórico mantido por vários meses para tentar reanimar uma economia afetada pela pandemia.
Como era esperado, o Banco Central adotou uma postura “hawkish” não apenas pelo endurecimento da postura do Fed em relação à sua política monetária, mas sobretudo pelas expectativas de IPCA, que voltaram a piorar nas últimas semanas, refletindo dados ruins de IPCA-15 e IGP-M divulgados na semana passada. Com a continuidade de sua política, o Copom tenta alinhar a inflação às metas da autoridade monetária, apesar de sua estratégia atrapalhar o crescimento econômico em meio a uma recessão declarada no terceiro trimestre. Em 2021, os preços no varejo tiveram a pior disparada em seis anos e, embora a expectativa seja de que a pressão sobre preços desacelere ao longo do ano, mesmo de forma mais morosa e lenta do seria o ideal.
No comunicado, o Copom antevê como mais adequado a redução do ritmo de ajuste na próxima reunião, enfatizando que passos futuros poderão ser ajustados. A REAG projeta que a Selic chegue a 12,25% ao ano ao fim do atual ciclo de aperto monetário, com mais duas altas após a decisão desta quarta. No nosso cenário básico, prevemos a Selic nesse patamar de 12,25% até o final do ano, podendo, no melhor dos cenários encerrar o ano em 11,75% e podendo recuar para 8% em 2023. Atividade mais fraca e menor importância da inflação de 2022 no horizonte relevante da política monetária dão suporte para tal tese. No entanto, as expectativas de inflação ainda seguem desancoradas, acima do teto neste ano e pouco acima do centro da meta em 2023. Adicionalmente, a surpresa negativa com a prévia da inflação de janeiro (IPCA-15), divulgada na semana passada, mantém o tom de cautela quanto ao processo de desinflação da economia.
No comunicado pós-reunião, o BC revisou suas projeções para o IPCA em 2022, para 5,4%, cifra que supera suas metas (entre 3,5% e 5%) pelo segundo ano consecutivo. A REAG projeta IPCA de 5,9% para este ano. Além disso, a autoridade monetária cortou sua expectativa de crescimento do PIB, de 2,1% para 1%, contra 4,4% estimados no início de 2021. A perspectiva ruim, no entanto, é superior à magra expansão de 0,3% prevista pelo mercado no último boletim Focus, enquanto da REAG é ainda menos otimista, estimando que o PIB recue em 0,5% no final de 2022.