O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro optou por endurecer o processe de ajuste monetário, elevando a taxa básica de juros em 100 basis-point (bps), que passou de 4,25% para 5,25% ao ano (a.a.), conforme esperado pela REAG. Com a decisão “hawkish”, o colegiado já sinaliza a possibilidade de um novo aperto de mesma amplitude para setembro, enfatizando a existência de componentes inerciais da inflação mais fortes do que se previa inicialmente.
“Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”, consta no comunicado pós decisão do Copom de agosto/21.
Na nossa leitura do comunicado de agosto, os membros do Comitê admitiram que a inflação ao consumidor final se mantém “persistente” e que os indicadores econômicos ainda se posicionam em seu conjunto de forma “desfavorável”, com significativa pressão dos preços no setor de serviços em meio ao processo de reabertura econômica após o enfrentamento da segunda onda de contaminações pela Covid-19 no início deste ano.
“O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.”
Dessa vez, o Copom admite haver novas pressões de curto prazo que podem contaminar as expectativas de inflação, citando a possibilidade de aumento do adicional da bandeira tarifárias de energia elétrica, além de também considerar a pressão sobre os preços advinda dos alimentos. Para completar a análise, assumem que o cenário de expectativas inflacionárias é estressado pelas incertezas no âmbito fiscal, que contribuem por adicionar riscos extras ao cumprimento da meta de inflação da política monetária estabelecida pelo Banco Central, apesar de ponderar a ocorrência de alguma melhora nos últimos meses.
De acordo com as projeções da REAG, a Selic deverá fechar o ano de 2021 à taxa anual de pelo menos 7,5%, com alguma possibilidade de o Copom optar por estender ainda mais o ajuste para 8%, devendo manter a taxa básica de juros nesse patamar de dezembro de 2021 até o final do ano que vem. Isso posto porque houve uma mudança significativa na comunicação, que até então admitida um ajuste parcial da sua política monetária. Em março, o ajuste começou atrasado e suavizado, visando combater uma inflação ainda considerada “temporária”. Com o IPCA amargando os 8,35% em 12 meses no acumulado até junho, agora a autoridade monetária já reconhece que essa inflação é mais dura e persistente. Isso posto, o ajuste monetário mais forte para enfrentar a alta de preços mais robusta vem em um momento bastante delicado da nossa recuperação econômica, com a atividade ainda bastante fragilizada em razão da pandemia e com o desemprego ainda sem ceder, atingindo diretamente quase 15 milhões de trabalhadores.