Apesar de a economia brasileira estar mergulhada há mais de dois anos em uma recessão nunca vista antes em sua história, situação que deve se perpetuar até pelo menos final deste ano, os últimos indicadores de confiança mostram que tanto empresários (construção, indústria, comércio e serviços) quanto consumidores estão menos pessimistas em relação ao futuro (vide gráficos abaixo). Mas a dúvida que paira é se de fato a economia real está melhorando ou se os agentes econômicos apenas se cansaram das tantas notícias ruins por um período tão prolongado e decidiram mudar o humor? A REAG vê a melhora de alguns fundamentos econômicos, mas descarta assegurar que a economia inicia um novo ciclo de crescimento.
A melhora da confiança generalizada, aquela que permite atiçar o “instinto animal” dos empresários, é um ingrediente fundamental para estimular a retomada do investimento e o crescimento sustentado da economia. Contudo, não basta estarmos simplesmente mais otimistas para que a economia retome automaticamente o crescimento. Se as perspectivas mais positivas não se confirmarem no mundo real, mais cedo ou mais tarde elas recuam. Recentemente, além da melhora na confiança, observa-se também a melhora de alguns indicadores econômicos. Os estoques da indústria têm diminuído, os custos de produção estão menos pressionados, a taxa de câmbio está mais próxima do nível de equilíbrio, o risco país caiu, os preços administrados estão menos pressionados.
Por outro lado, a deterioração do mercado de trabalho é muito profunda e ainda irá amargar resultados ruins por um período maior do que o esperado. Mas acima de tudo temo que levar em consideração o fato de o ajuste nas contas públicas ainda se manter em compasso de espera. Não bastam boas intenções e excelente qualificação por parte da equipe econômica, além da compreensão de que o processo a ser enfrentado é longo e árduo, se as ações, na prática, não estão sendo tomadas. Sem o ajuste fiscal, o déficit público continuará a tomar corpo, infectando o risco-país e contaminando os ativos financeiros, que voltarão a perder valor, como o câmbio, pressionando os preços novamente.
Temos motivos para estarmos mais otimistas ou menos pessimistas, mas isso não é suficiente por hora. As medidas que podem transformar esse otimismo em retomada e crescimento da atividade econômica ainda não se consolidaram. A concretização dos indicadores de confiança está suscetível a movimentos de oscilação, sensíveis ao atual dinamismo da economia e às incertezas no campo político.
Índice de Confiança da Construção (dessazonalizados) – Fonte: FGV
Índice de Confiança da Indústria (dessazonalizados) – Fonte: FGV
Índice de Confiança do Consumidor (dessazonalizados) – Fonte: FGV
Índice de Confiança do Comércio (dessazonalizados) – Fonte: FGV
Índice de Confiança de Serviços (dessazonalizados) – Fonte: FGV