O mês de março traz um pouco mais de esperança de que a economia começa a sair do fundo do poço. A retomada deverá ser lenta devido ao peso do lastro que a economia terá que arrastar daqui para a frente: o custo do déficit fiscal, o elevado endividamento de empresas e famílias e a alta taxa de desemprego. Aparentemente o dever de casa tem sido feito, com a tramitação benigna das reformas no Congresso e algumas medidas positivas como a liberação das contas inativas do FGTS, que deve dar um estímulo pontual, mas relevante, ao consumo doméstico. O arrefecimento da inflação também tem dado uma força para o Banco Central na flexibilização da política monetária. Por outro lado, ao contrário do que se chegou a recear, o cenário internacional tem sido favorável ao Brasil desde a eleição de Donald Trump. De um lado, o país tem se beneficiado pela alta do preço das commodities; de outro, de um aumento do apetite pelo risco no mercado financeiro internacional.
Atividade Econômica
O nível de atividade começa a ensaiar sinais mais consistentes de retomada neste início de ano, com uma recuperação em boa medida alimentada pela contribuição da agropecuária, a qual será difundida por parte expressiva do sistema econômico. Com isso, aceitamos a probabilidade de o PIB crescer minimamente no segundo trimestre, revertendo uma longa sequência de taxas negativas. Seria o começo do fim da mais aguda recessão experimentada pelo país. Mas ainda é cedo para ir mais além dessa especulação. Ponderamos, contudo que a produção industrial permanece estagnada em nível muito baixo, mesmo depois do crescimento relativamente forte em dezembro — e bem fraco em janeiro. O mesmo se aplica às vendas no varejo, cujos resultados vêm sendo bastante deficitários. Na raiz desse medíocre desempenho está o crédito, ainda muito retraído devido ao endividamento tanto das empresas quanto das famílias.
Mercado de Trabalho
As perspectivas no mercado de trabalho são de retomada lenta gradual ao longo dos anos de 2017 e 2018. A lentidão da recuperação se deve a três principais fatores: queda no emprego formal, aumento da força de trabalho e elevado nível de desocupação. Muito desse desempenho da taxa de desemprego nos próximos dois anos virá do crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), com o retorno de trabalhadores inativos ao mercado de trabalho.
Inflação
O recuo da inflação é um ponto positivo de grande destaque. Tal fato vem sendo comemorado como um dos aspectos mais notáveis do cenário macroeconômico, em especial pela perspectiva de um resultado para o ano bastante próximo à meta. Isso cria mais espaço para uma redução substancial dos juros básicos, chave para que possamos eliminar o elevado hiato do produto com que convivemos há pelo menos dois anos. O IPCA neste primeiro trimestre de 2017 deverá acumular alta inferior a 1,5%, cuja taxa é mais de um ponto porcentual abaixo da contabilizada no mesmo período em 2016 (2,6%). A principal contribuição para esse resultado está nos preços dos alimentos, comportamento que reflete a oferta de grãos e alimentos in natura, que segue mais regular neste verão. Além disso, o prolongamento da recessão e seus efeitos sobre a demanda agregada também estão desacelerando a inflação.
Política Fiscal
O cumprimento da meta fiscal em 2017, que prevê déficit de R$ 139 bilhões, parece ser algo impossível de ser alcançado, uma vez que o planejamento foi construído sobre bases que estão em desacordo com as atuais projeções do mercado. O governo montou seu orçamento sob a premissa de que o PIB crescerá 1,6% em 2017, mas o mercado projeta atualmente uma taxa bem menor, de apenas 0,5%. Se o consenso de mercado estiver certo, a estimativa das receitas feita pelo governo deverá ser revista para baixo e consequentemente, o mesmo deverá ser feito com as despesas. Além do cumprimento da meta, o governo está no primeiro ano de vigência da EC 95/16, que define um limite máximo para os gastos primários. Tem-se, então, uma dupla regra para o orçamento: a meta de resultado primário e a limitação dos gastos primários. A mudança nas premissas macroeconômicas leva a uma necessidade de contingenciamento das despesas primárias da ordem de R$ 40 bilhões para acomodar a nova estimativa de receitas à meta de déficit do Governo Central.
Cenário Internacional
Apesar de o nível de incerteza ter, aparentemente diminuído bastante, ainda continua elevado. Entre a lista de fatores que continuam segurando uma retomada mais vigorosa da economia internacional figura, em primeiro lugar, dúvidas sobre o conteúdo e os impactos da política econômica de Donald Trump. Também permanecem preocupantes a chance não trivial de partidos populistas vencerem as eleições em importantes países europeus.