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Cenário Macroeconômico MAIO/2017: saída da recessão é iminente, mas ainda sufocada pelo risco político

Maio começa ainda com a economia tentando emergir de um longo período de recessão, atolada em um quadro fiscal extremamente complicado, com a dívida pública em forte escalada e com o mercado de trabalho desmantelado. Mas fazendo uma retrospectiva dos resultados macroeconômicos e setoriais no 1º trimestre de 2017 é cada vez mais certo que a economia começará a respirar os ares de uma lenta e gradual recuperação em breve. Em menos de um ano observam-se grandes avanços, como a queda da inflação para baixo da meta e os juros recuando em ritmo mais rápido do que o esperado pelo mercado. Contudo, o imbróglio no cenário fiscal se mantém, por um lado, porque o déficit público primário continua elevado e sem dar sinais de que vá cair significativamente; e por outro lado porque há pouco apoio político para um ajuste mais forte das contas públicas, por conta da conturbada crise política, da recessão e da resistência de corporações e grupos de interesse, que lutam para manter antigos privilégios e benefícios que não se sustentam mais.

Diante dessas restrições, o governo vem tentando equacionar a situação fiscal por meio da Emenda Constitucional que estabeleceu o teto dos gastos públicos e das reformas trabalhista e previdenciária que visam estabilizar a relação dívida pública/ PIB em horizontes longos, de cerca de dez anos. O mercado comprou essa estratégia, o que levou a forte queda do prêmio de risco país, à valorização do real e à queda dos juros longos. Mas apesar do esforço do governo em aprovar as reformas em tempo recorde, a cena vem sendo roubada pela divulgação dos depoimentos dos colaboradores na Operação Lava Jato. Esse é o quadro que se observa neste começo do segundo trimestre, quando se notam com mais clareza sinais de melhora em várias dimensões da economia.

 Atividade

Do lado do nível de atividade apesar de o cenário parecer mais benigno, nada excepcional deverá ser anunciado neste mês, a despeito do bom desempenho da agropecuária e de melhoras nos indicadores de atividade do comércio e dos serviços. Na indústria, porém, as projeções prosseguem em baixa. Pelo lado da demanda, ficamos um pouco frustrados com o impacto praticamente nulo dos saques das contas inativas do FGTS sobre o consumo das famílias, as quais parecem ter optado por usar esses recursos majoritariamente na liquidação de suas dívidas.

Inflação

A desaceleração da inflação, apesar de uma notável indicação de melhora econômica é algo já precificado pelo mercado e que não deverá trazer surpresas. O que podemos notar este mês, porém, será um maior arrefecimento nos preços dos alimentos para o consumidor final e indícios de alívio dos preços no atacado, seja no setor agropecuário, seja de produtos industriais, indicando menores pressões nos preços ao consumidor à frente. E mesmo em relação aos serviços livres, cuja inflação apresentou elevada rigidez no ano passado, as previsões são de que esta volte a desacelerar, depois da pequena elevação da taxa para os doze meses terminados em março.

 Política Monetária

Assim, basicamente por conta da freada na inflação, o Banco Central intensificou o ritmo de flexibilização monetária, cortando a Selic em 100 pontos-base em abril. A queda do juro básico, além do potencial efeito dinamizador sobre a economia, rebate favoravelmente sobre o estado das contas públicas pela contribuição sobre o déficit nominal. Na nossa avaliação, é admissível pensar em nova redução de mais de 100 pontos-base na próxima reunião do Copom, agendada o final de maio, apesar de lembrarmos que seria cauteloso evitar oscilações muito expressivas da taxa básica de juros, que tendem a prejudicar a formação de preços nos mercados financeiros.

 Contas Públicas

É especificamente na seara das contas públicas que se encontra o calcanhar de Aquiles da recuperação econômica. Contas essas que continuam a inspirar cuidados, como se deduz da recente elevação da meta de déficit primário projetada para o ano que vem. A avaliação também sugere que medidas adicionais terão que ser tomadas para amortecer a expansão do endividamento público, que é o traço mais marcante e preocupante do momento atual, especialmente se os efeitos da reforma da Previdência não forem tão fortes como se espera.

 Mercado de Trabalho

Outro obstáculo à recuperação econômica encontra-se no mercado de trabalho, que ainda se mantém em ritmo de deterioração e que demorará a reagir mesmo após a retomada da atividade. A taxa de desemprego continuará a subir, devido à queda no número de pessoas ocupadas, simultaneamente a um aumento na população economicamente ativa. Aparentemente, os sinais de recuperação da atividade econômica ainda não são suficientemente fortes para justificar novas contratações. Ao mesmo tempo, a força de trabalho aumenta de forma mais acelerada do que antevíamos.

Setor Externo

O quadro continua favorável, com o déficit em conta corrente recuando de US$ 6,7 bilhões para US$ 6,0 bilhões entre os primeiros bimestres de 2016 e de 2017, devido principalmente à melhora na balança comercial. A melhora na balança comercial poderá se sustentar e previsões de saldos ao redor de US$ 50 bilhões ganham viabilidade em um cenário de crescimento das exportações e das importações. O comportamento favorável das commodities e a melhora da balança comercial estão fortemente associados ao resultado da balança bilateral com a China, que passou de superávit de US$ 1 bilhão para US$ 5 bilhões. Com isso a participação do “Império do Meio” na pauta de exportações do Brasil passou de 16% para 23% entre os primeiros trimestres de 2016 e 2017. Uma boa notícia para o Brasil é a de que os especialistas em China não esperam grandes riscos para o crescimento de cerca de 6,5% para o país neste ano. A alta de 6,9% do PIB chinês no primeiro trimestre de 2017 é um sinal nessa direção.

 Internacional

Apesar de o cenário econômico internacional não atentar para novidades espetaculares, ele ainda se apresenta chacoalhado e fragilizado pelo surgimento de crises nas áreas política e de segurança. O clima geral é de incerteza basicamente por conta da área política, com os resultados das eleições na França apontando para a falência dos partidos e a emergência do populismo e do nacionalismo. Nos EUA, a série de reformas promovida por Donald Trump na economia norte-americana traz incerteza, assim como também ainda gera incerteza a situação de Brasil e Rússia. No que se refere à segurança, destaque para o agravamento da situação na Coreia do Norte, sem falar que, na Síria, a crise humanitária parece não ter fim. Na América do Sul, a situação da Venezuela também é preocupante.

É sobre esse cenário de fundo brandamente carrancudo, mas com traços de esperança, que devem se desdobrar os acontecimentos econômicos neste início do segundo trimestre do ano.

TABELA

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