Apesar de o mercado financeiro se manter resiliente e o governo insistir que está no controle da situação, as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer já traçaram o destino da economia real, que somente retomará o crescimento de forma robusta após o país eleger um novo governante, ou seja, em 2019. As novas denúncias de corrupção tiraram de cena a alavanca da retomada: a confiança dos empresários. Além disso, essa situação reflete aos olhos do investidor internacional a imagem de um país com sérios problemas de governança, mergulhado em corrupção e sem forças para sair do atoleiro.
Enquanto o governo se mobiliza para sobreviver no poder, intensifica-se a desarticulação em torno de medidas capazes de socorrer as combalidas contas públicas. Enquanto governo e Congresso ficam estagnados diante das denúncias de corrupção, a crise nas contas públicas da União e dos Estados se aprofunda. Por outro lado, os últimos indicadores têm mostrado que a economia real tem reagido com resiliência e cada vez é menor o risco de um novo agravamento da crise ou aprofundamento da recessão. O que impede um eventual retrocesso é o avanço de setores que ficam descolados da crise, como agricultura e mineração; o bom desempenho das exportações; bem como a queda da inflação, que permite a redução da taxa básica de juros e, consequentemente, deixa o crédito mais acessível.
Esperamos para o segundo semestre deste ano recuperação tímida do consumo, em especial porque o desemprego deu sinais de que parou de aumentar. Em outras palavras, tirando a questão fiscal, não estamos a ponto de ter outra crise estrutural, mas a recuperação econômica efetivamente foi adiada. O cenário internacional, por sua vez, tem contribuído de forma relevante para que o Brasil atravesse a crise e a instabilidade política recente com certa tranquilidade. O excesso de liquidez e a falta de papeis de baixo risco empurram o investidor estrangeiro para ativos mais arriscados como os do Brasil.
Mantemos nossa opinião de que a saída da crise será lenta, gradual e difícil porque a recessão dos últimos anos é consequência de uma profunda deterioração dos fundamentos econômicos do país, com uma situação fiscal periclitante, uma significativa perda de competitividade industrial e empresas e famílias altamente endividadas. Além disso, temos uma enorme massa de trabalhadores desempregados com baixa qualificação, que dificilmente serão totalmente absorvidos de volta no mercado no médio prazo.
PIB
O respiro da atividade econômica neste início de ano deveu-se, em grande medida, ao vivaz desempenho da atividade agropecuária, que vem mais que compensando a forte contração em 2016. Contudo, a contribuição da agropecuária será menor no resto do ano, em especial no segundo trimestre, para o qual projetamos contração do PIB de 0,4%. O resultado vem mais apertado muito em função da surpresa negativa com o resultado do PIB da indústria de transformação no primeiro trimestre, contrabalançada por um desempenho ainda mais favorável da agropecuária e da indústria extrativa. De qualquer forma, a projeção do segundo trimestre não é inconsistente com a melhora lenta e gradual da economia no médio prazo. Pelo lado da oferta, a indústria e os serviços deverão crescer na margem, ainda que não o suficiente para compensar a menor contribuição da atividade agropecuária e, por conseguinte, para evitar nova retração do PIB na margem. Com isso, a projeção de crescimento para 2017 como um todo não ultrapassará +0,3%, a qual é compatível com um recuo do PIB de 0,3% quando se exclui a atividade agropecuária. Para 2018, a projeção foi revisada para algo em torno de 2,0%.
Mercado de Trabalho
Os números do mercado de trabalho têm dado sinais de recuperação. O saldo líquido de geração de vagas com carteira assinada registrado pelo CAGED foi positivo em 60 mil e 34 mil nos meses de abril e maio, respectivamente. Paralelamente, a taxa de desemprego medida pela PNADC apresentou surpresa positiva em seu último dado, divulgado em abril. O desemprego alcançou o patamar de 13,6%, com leve queda em comparação a março (13,7%). Entretanto, as recentes leituras positivas ainda não nos motivam a enxergar um cenário mais benigno para 2018. Pelo contrário, a grande volatilidade observada nos números do CAGED e da PNADC nos primeiros meses do ano ainda não nos permite diferenciar as surpresas positivas de simples ruídos nos dados.
Inflação
O arrefecimento nos preços continua sendo o destaque macroeconômico. Repetindo em maio o que se tornou um padrão nos últimos nove meses, a inflação vem surpreendendo os analistas, com boa parte da desaceleração, tanto a calculada como a prevista, sendo protagonizada pelos alimentos. Nossa expectativa é de que a descompressão dos preços dos bens de consumo e também dos serviços livres se manterá nas próximas leituras do IPCA.
Política Monetária
Diante do caos político que tem conturbado a economia, nossa expectativa é de que o Banco Central deverá agir com cautela e conservadorismo — ou seja, promover movimentos modestos, evitando sinalizar que possa ir muito longe no processo de flexibilização monetária. Com as informações de que dispomos, parece pouco provável que as expectativas mais agressivas de queda dos juros sejam confirmadas.
Política Fiscal
A arrecadação tem perdido cada vez mais força e vem sofrendo duramente os efeitos da crise. Ainda que se enxergue uma recuperação em relação ao observado em meados de 2016, a retomada prossegue em ritmo muito lento e sua continuidade é incerta. Como forma de compensar a perda de receitas recorrentes, o governo tem se esforçado em extrair recursos de fontes não recorrentes. Porém, existe um elevado risco de frustração de receitas não recorrentes previstas pelo governo. Os números da arrecadação federal de maio apontam mais uma retração em relação ao mesmo mês do ano passado. Isso corrobora a hipótese de que neste ano o governo só irá conseguir cumprir a meta de primário se os eventos não recorrentes esperados se concretizem.
Cenário Internacional
Os sinais de recuperação apresentados pela economia mundial nos últimos tempos têm sido firmes e bons. Isto é particularmente verdadeiro no tocante aos países mais avançados. Nos últimos dois anos, o crescimento econômico da área do Euro tem sido comparável ao da economia americana. O Japão também se recupera. Além disso, é positivo que a queda das taxas de desemprego nos países avançados não esteja sendo acompanhada de pressões inflacionárias preocupantes. Isso permite a manutenção de políticas monetárias relativamente frouxas.
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