O segundo mês do ano começa com a economia ainda pisando em ovos, em meio às incertezas do cenário político doméstico e das turbulências no mercado internacional geradas pelo trator Trump. Contudo, as recentes divulgações dos indicadores econômicos recordes fechados para o ano de 2016 (desemprego e déficit primário) trazem a esperança de que o pior já passou e que 2017 será um ano ainda difícil, mas com a perspectiva de uma lenta e contínua recuperação.
Inflação
Os sinais de desaceleração da inflação então entre os destaques otimistas do início deste ano, com indicações de que a desaceleração prossegue no ritmo dos meses finais de 2016. Não obstante, um motivo para preocupação é o descolamento registrado entre preços ao consumidor e ao produtor, na passagem de 2016 para 2017. Em dezembro, o IPC avançou 0,33%, enquanto o IPA subiu 1,13%, após uma sucessão de percentuais na em torno da estabilidade. Um exame das causas da aceleração do IPA sugere que o desencontro, por ora, não é sinal de alta na inflação ao consumidor. Nossa previsão para 2017 é de que a inflação medida pelo IPCA será em torno de 5%.
Atividade
Os últimos indicadores de atividade não trouxeram surpresas capazes de alterar substancialmente nossa projeção recuo em 2,3% do PIB para o último trimestre de 2016, fechando o ano passado com perda de 3,5%. Para o primeiro trimestre de 2017, por sua vez, nossa projeção permanece em -1,5% e, para o ano fechado, em 0,5%. Para tanto, contamos com dois vetores positivos no cenário de crescimento para este ano: os prognósticos favoráveis para a safra (crescimento em torno de 15%) e a expectativa gerada pelo anúncio de que o governo liberará os recursos nas contas inativas do FGTS. Com a sinalização de que os demais setores da economia (indústria e serviços) permanecerão tímidos, a contribuição da agricultura para o crescimento do PIB neste primeiro trimestre de 2017 deverá ser bastante expressiva. Já o segundo aspecto, mesmo que de difícil mensuração, permite estimar por alto que o descongelamento do FGTS injetaria até 0,5% do PIB (em torno de R$ 30 bilhões) na economia e daria um ânimo do deprimido consumo das famílias.
Taxa de Juros
Na esfera do Banco Central, apesar de o mercado ter recebido com aplausos o novo ritmo de cortes na Selic, em 0,75 pontos-base, os investidores ainda se mostram um tanto quanto inquietos e desconfortáveis em relação aos últimos comunicados da autoridade monetária, por julgarem que os recados não estão sendo devidamente transmitidos de forma a administrar adequadamente as expectativas. A expectativa é de que a reunião do Copom de fevereiro venha com maior clareza e transparência da comunicação sobre a condução da política monetária, com o consenso liderado por um novo corte de 0,75 pontos-base, apesar de haver um grupo pequeno, mas de peso, que aposta na possibilidade de o Banco Central optar por estender o corte para 1,0 ponto porcentual. Nossa leitura do comunicado que acompanhou a redução de 0,75 pp da taxa SELIC na reunião do Copom de janeiro, maior que a esperada pela mediana dos analistas, é de que os futuros cortes poderão ser da mesma ordem de grandeza. Consequentemente, existe a perspectiva de que a taxa no fim do ano possa chegar a 9,5%.
Mercado de Trabalho
Como prevíamos, o mercado de trabalho permaneceu desaquecido no final de 2016. A taxa de desemprego, medida pela PNAD Contínua, alcançou 12% em dezembro, registrando leve alta em relação aos 11,9% de novembro. Reforçando o cenário de crise no mercado de trabalho, a população desocupada permanece crescendo, após alcançar 12,1 milhões e atingindo patamares recordes. Nossa projeção é de manutenção da deterioração do mercado de trabalho com leve alta da taxa de desemprego no início de 2017, seguida de lenta e gradual redução a partir de meados do ano.
Congresso
No âmbito político, o grande destaque é a volta do Congresso após o recesso parlamentar. As atividades foram abertas com a vitória do governo nas eleições dos novos presidentes da Câmara (Rodrigo Maia) e do Senado (Eunicio Oliveira), ambos do PMDB. O mercado recebe de forma positiva a liderança do governo nas duas casas, o que deverá facilitar a tramitação do principal tema neste primeiro semestre: a Reforma da Previdência.
Internacional
O começo do governo Trump, como era de se esperar, veio marcado por medidas conturbadas e alarmistas, que necessitarão tempo para serem digeridas e implantadas, o que ainda deixa os investidores em passo de espera na tomada de decisões. No que diz respeito à política monetária nos EUA, não é esperada qualquer novidade para a reunião de fevereiro, na qual o banco central americano deve manter a taxa de juros, com a justificativa que ainda está aguardando os primeiros passos de Trump, além de estarem observando a reação da economia frente à última elevação de juros. Na Europa, o foco segue nas eleições do continente, com pesquisas de opinião ganhando cada vez mais força: França e Alemanha são os destaques.