Comentário Econômico- Marcelo Fonseca
CENÁRIO GLOBAL
Em julho, o principal destaque coube à retomada do aperto dos juros nos EUA com a alta de 0,25 p.p. na taxa básica do Federal Reserve (Fed), após a breve pausa na reunião anterior. A surpreendente resiliência da atividade econômica, em particular do mercado de trabalho, foi a principal razão para a retomada no ciclo de ajuste monetário, que já se configura como o mais longo em décadas.
Embora o chairman J. Powell tenha indicado a possibilidade de continuidade da elevação dos juros nas próximas reuniões, entendemos que este se encontra próximo do fim. Nos próximos meses, a inflação deverá corroborar o arrefecimento observado recentemente, em particular nas medidas de núcleo mais atentamente acompanhadas pelo Fed. Fundamental para esse processo, os salários deverão manter a tendência de arrefecimento, beneficiada pela redução na demanda por mão-de-obra (já visível no menor número de vagas de trabalho em aberto). Menores custos de aluguéis e queda nos preços de veículos também beneficiarão o processo de recuo da inflação.
CENÁRIO BRASIL
Após o forte crescimento de 1,9% do PIB no primeiro trimestre de 2023, a economia brasileira dá sinais de acomodação. O IBC-Br, indicador amplo de atividade econômica divulgado pelo Banco Central do Brasil, apresentou crescimento de apenas 0,3% na variação acumulada entre abril e maio, ante alta de 2,2% no primeiro trimestre. O consumo das famílias, um dos principais motores do crescimento da demanda nos últimos trimestres, mantém a tendência de arrefecimento, em linha com o aperto das condições de crédito, elevação do endividamento das famílias e aumento da inadimplência. Antecipamos uma desaceleração mais intensa da atividade ao longo dos próximos meses, decorrente das condições monetárias ainda apertadas e provável acomodação do crescimento global. Projetamos leve contração do PIB no segundo semestre do ano. Ainda assim, o crescimento de 2023 deverá ficar ao redor de 2,0%.
A inflação seguiu a tendência de arrefecimento observada desde meados do ano passado. Na variação acumulada em 12 meses, o IPCA-15 de junho recuou para 3,2%, liderado pela forte desinflação dos preços livres. Entretanto, a queda da inflação subjacente, especialmente dos serviços, continua ocorrendo em ritmo lento, com a média dos núcleos de inflação acompanhados pelo BC situando-se em patamares ainda elevados, ao redor de 6%.
A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) no mês de junho de manter a meta de inflação em 3%, embora largamente esperada, produziu recuo adicional das expectativas de inflação. Juntamente com o desaquecimento em curso da atividade econômica e a queda na inflação corrente, criam-se assim as condições para o BC iniciar um ciclo de redução dos juros já na reunião do Copom de agosto. Não obstante, acreditamos que a resiliência da inflação de serviços, expectativas de inflação para os próximos anos acima da meta e o mercado de trabalho apertado levarão o Copom a optar por uma estratégia de ajuste gradual das condições monetárias. Projetamos redução da Selic para 12,0% a.a. ao final de 2023 e 9,0% a.a. em 2024. O ritmo dos cortes e a magnitude total da redução dos juros serão altamente dependentes da evolução da política fiscal, em particular no que diz respeito à implementação do novo arcabouço fiscal.
Comportamento dos Mercados – Saulo Holzmann
Este mês de julho, período de verão no hemisfério norte, foi de poucos eventos de destaque. Os Bancos Centrais dos desenvolvidos (EUA, Europa…) continuaram seu processo de alta de juros, mas com uma leitura pelo mercado de um final de ciclo, já que a inflação global continua a apresentar quedas (atualmente ao redor de 4%). E é cada vez mais claro que estamos vivendo o chamado “soft landing”. Isto significa que os Bancos Centrais estão sendo hábeis em trazer a inflação para baixo sem criar uma queda agressiva na atividade econômica. O mês de julho foi de alta generalizada nas bolsas, com exceção do Japão. O Brasil seguiu a tendência global, mas também foi positivamente influenciado pelas recentes boas notícias internas sobre inflação e atividade, pela votação da reforma tributária (IVA dual), pela perspectiva da reforma tributária sobre a renda e pela melhora do Rating do país pelas agências de crédito. Neste mês, a bolsa, representada pelo Ibovespa, mais uma vez fechou no positivo, enquanto o Real continuou a se valorizar perante o dólar e o euro. O fechamento das curvas futuras de juros, representado pelos Índices Anbima, foi positivo, mas abaixo da variação do CDI.
CENÁRIO GLOBAL
Depois da pausa de junho, o Banco Central americano voltou a subir a taxa de juros em 0,25%, chegando a 5,50%, uma das mais fortes altas de juros na história daquele país. Desta vez, o FED (BC americano) deu a entender em seu discurso que pode estar próximo do final do ciclo de alta. Isto basicamente confirma a visão do mercado de fim de ciclo, já que a inflação global segue em queda, muito ajudado pela baixa nos preços das commodities. Este cenário de “soft landing” sempre foi nosso cenário básico desde o final do ano passado. Entretanto, ainda vemos que, apesar do fim do ciclo, os BCs manterão os juros altos por mais algum tempo, até estarem confortáveis com o nível de inflação girando em torno de 2%, o que deve ocasionar possíveis revisões para baixo da expectativa de crescimento global para 2024.
CENÁRIO BRASIL
Com a aprovação do novo modelo de arcabouço fiscal, a votação de parte da reforma tributária (IVA dual) e a provável votação dos tributos sobre a renda, houve uma significativa melhora no cenário local não visto desde o início do terceiro mandato de Lula. Tanto que as agências de crédito internacionais tiveram que revisar para melhor a nota de crédito do país. E com a inflação mais baixa também no Brasil, ajudada pela inflação de atacado (preços de energia, industriais) e um real mais valorizado, continuamos a ver perspectivas para uma contínua melhora na curva de juros futura, que será mais contundente quão mais críveis forem os números de receita fiscal e a finalização da reforma tributária a ser aprovada. A Reag Investimentos espera 0,50% de queda agora no COPOM de agosto, de 13,75% para 13,25% a.a. Mas, independentemente do nível da queda dos juros agora, a sinalização de um início de ciclo de queda de juros traz boas perspectivas para atividade, risco fiscal etc. Importante ressaltar que o Brasil iniciou seu processo de alta antes dos países desenvolvidos. Esta melhora se traduz nos índices de mercado até julho, já que todos os Índices de Mercado Anbima (pré e indexados à inflação) já estão acima da variação do CDI no ano. O mesmo vale para a valorização do Real e a do Ibovespa contra o CDI no período de 7 meses acumulados.
INDICES DO MÉRCADO
- Ibovespa: +3,27%
- Dólar: -1,25%
- CDI: +1,07%
- IGPM: -0,72%