Semana agitada com agenda de indicadores domésticos e movimentação intensa no exterior
Esta última semana de setembro apresenta agenda cheia, com destaque para a agenda externa: Payroll nos EUA, leitura final dos PMIs da indústria e de serviços no mundo, além do primeiro debate para corrida presidencial americana. Ainda nos EUA, os investidores estarão atentos aos dados sobre balança comercial, gastos pessoais, vendas pendentes de moradias, além da confiança do consumidor elaborada pelo Conference Board e Univ de Michigan. O destaque, entretanto, fica para o Payroll (sexta-feira). A perspectiva aponta para uma desaceleração do ritmo de recuperação do setor de trabalho americano, com as dúvidas relativas ao novo pacote de estímulos americano reduzindo o ímpeto de contratação das empresas. Nesse caso, a mediana de mercado aponta para leve recuo da taxa de desemprego para algo próximo de 8,2% enquanto é aguardada uma geração de 900 mil vagas de trabalho no setor não agrícola.
Na terça feira, Trump e Joe Biden se enfrentam no primeiro debate para a corrida presidencial. Espera-se um embate caloroso, em meio aos principais temas como a pandemia, protestos, nomeação ao Supremo Tribunal, política externa, além de diversos ataques de cunho pessoal, o que pode prejudicar ainda mais as tratativas para se chegar a um acordo sobre os novos gastos fiscais. Na Europa, as preocupações com a segunda onda da pandemia devem continuar ocupando o primeiro plano dos debates. Neste sentido, os números do PMI da indústria e dos serviços e a confiança do consumidor de setembro do bloco, e vendas no varejo alemão, devem dar uma ideia do impacto causado pela retomada de algumas medidas de quarentena, enquanto alguns países cogitam restrições mais severas.
A China entra em feriado nacional a partir de quinta-feira, 1º de outubro de 2020, o que pode reduzir a liquidez na região asiática e afetar principalmente as commodities. Antes disso, serão conhecidos a leitura final dos PMIs da indústria e dos serviços de setembro, com perspectivas que giram entre a estabilidade e a desaceleração. No mais, a semana guarda os discursos de diversos dirigentes do Fed e BCE. A expectativa é de que os membros dos principais comitês de política monetária do mundo reiterem o ambiente de ampla liquidez, mas destaquem a necessidade de novos estímulos de âmbito fiscal, em meio à continuação das incertezas econômicas envolvendo a pandemia.
Neste sentido, acreditamos em uma semana marcada pela cautela, com indicadores mostrando que a recuperação econômica mundial pode estar desacelerando em meio à piora da pandemia em diversas regiões, principalmente na Europa. Além disso, a perspectiva de que o novo pacote de auxílio fiscal americano pode acabar ficando para o ano que vem, graças às turbulências do processo eleitoral, pode trazer mais volatilidade e alimentar o mau humor externo.
No Brasil, os mercados devem permanecer sensíveis à volatilidade do ambiente internacional, além de estarem bem atentos aos mínimos movimentos na agenda política e fiscal. Internamente, após alguns adiamentos, espera-se que senador Márcio Bittar, relator da PEC do Pacto Federativo, apresente o seu parecer final. Além disso, aguardam-se avanços no debate sobre pontos importantes da reforma tributária, como criação do imposto digital para financiar eventual desoneração da folha de pagamentos de maneira mais ampla.
Ademais, até o momento, está mantida para próxima quarta-feira a sessão do Congresso que irá apreciar os vetos presidenciais acerca da prorrogação da desoneração em folha de pagamentos para 17 setores da economia. Dessa forma, reuniões entre líderes na formação de acordos políticos que possam unificar o assunto da desoneração com avanço da reforma tributária estarão no foco dos investidores.
Na agenda de indicadores, destacamos os indicadores de inflação (IGP-M, IPC-FIPE e IPC-S); Produção Industrial, Nota de Crédito do Banco Central, CAGED e o Resultado Primário do Governo Central. O Ministério do Trabalho e Emprego divulgará a geração de empregos formais (CAGED) de agosto (terça-feira). Nossa estimativa é de saldo de 160.440 vagas, o que se somado ao saldo do mês passado resultaria em 291.450, representando uma recuperação de apenas 21% do que foi perdido no período de choque do COVID-19 (mar e jun/20). Com ajuste sazonal, o saldo deve passar de 124.584 para 148.487. Na quarta, a taxa de desemprego deve subir de 13,3% para 13,6%, o que, com ajuste sazonal, representaria aumento de 13,1% para 13,4%. A dinâmica segue refletindo os efeitos negativos da pandemia e o movimento de alta deve continuar sendo limitado pela taxa de participação deprimida devido aos auxílios emergenciais à renda e ao receio dos indivíduos em procurar trabalho.
A produção industrial de agosto (sexta) deve crescer 3,9% (MoM). Os indicadores coincidentes vieram robustos, com destaque para veículos (Anfavea: 21%, MoM, produção | 77,2%, MoM, exportações), aço (IBS: 8,0%, MoM) e expedição de papel ondulado (ABPO: 4,1%, MoM). A dinâmica pode ser reflexo da transferência de consumo de serviços para bens, trazido pelo isolamento social e potencializado pelo auxílio emergencial.
Na terça, o IGP-M de setembro deve acelerar de 2,74% para 4,81%, puxado pelos produtos agropecuários (arroz, soja, milho e bovinos) e industriais (minério de ferro, alimentos industrializados e produtos químicos). O IPC também contribuirá de forma importante, com destaque para o repasse ao varejo dos aumentos dos alimentos e a retomada de alta das passagens aéreas. A inflação no atacado tende a continuar pressionada, elevando o debate sobre a possibilidade de repasse dos preços para o consumidor.
O resultado do governo central de agosto (terça) deve sair de -R$87,8 bi para –R$101,5 bi, refletindo majoritariamente as pressões negativas das despesas extraordinárias dos programas emergenciais no combate ao choque da CO-VID-19. Ainda sem data definida, a arrecadação federal de agosto deve diminuir R$116 bi para R$107 bi, ainda bastante deprimida, apesar da reabertura gradual da economia. Enquanto isso, a atividade deve apontar crescimento gerando perspectiva de recuperação, após os impactos da crise sanitária.
Entre os eventos, na quarta-feira o Banco Central começa a rolagem integral dos contratos de swap cambial que vencem em 3 de novembro, no total de US$ 6,5 bilhões.