Na quarta-feira, ocorrerá o principal evento da semana na agenda doméstica, a reunião do Copom. No encontro, acreditamos que o Banco Central elevará a taxa básica de juros em 100 bps, passando de 11,75% para 12,75% a.a. Mesmo diante dos efeitos inflacionários da guerra na Ucrânia, acreditamos que o comunicado terá um tom dovish devido à manutenção da preferência pelo cenário alternativo no qual existe convergência da inflação à meta no horizonte relevante. Acerca da sinalização futura, nossa expectativa é de que a autoridade monetária se manterá dependente de dados, deixando a porta aberta para um ajuste residual de 50 bps na reunião de junho.
A grande dúvida do mercado é se o Colegiado irá manter sua estratégia e afirmar que encerrou o atual ciclo de alta da Selic nesta reunião, como vinha sinalizando, ou se deixará em aberto a possibilidade de um ajuste adicional em junho. O consenso do mercado, por ora, aponta para a segunda opção, prevendo alta de 0,5 pp na próxima reunião, o que levaria a Selic para 13,25% aa no fim do ciclo. O mais provável é que o Copom não se comprometa e deixe suas opções em aberto, decidindo sobre a necessidade de um movimento adicional apenas em junho, a depender da evolução do cenário.
Isso porque, a evolução da inflação segue preocupando bastante. O IPCA-15 superou a marca de 12,0% em abril, com elevada disseminação na economia, além da existência de uma série de riscos no ambiente, como a depreciação recente do Real (voltando para a casa dos R$ 5,0/US$), preços das commodities se mantendo em patamares elevados no mercado internacional e pressão inflacionária a nível global. Adicionalmente, importante destacar que a partir desta reunião, o horizonte relevante da política monetária contemplará apenas o ano calendário de 2023, com as projeções de inflação para o ano já em 4,0%, bem acima do centro da meta (3,25%). Assim, a possibilidade de desancoragem das expectativas deve demandar uma postura assertiva do Copom, o que justificaria manter em aberto a opção por novo ajuste em junho.
Com atraso na divulgação devido à greve dos servidores públicos, o IBC-Br de fevereiro foi divulgado nesta segunda-feira. O indicador que é considerado uma prévia do PIB do Brasil, subiu 0,34% em fevereiro na comparação janeiro, recuperando parte da queda de janeiro (-0,7%). Os indicadores antecedentes já conhecidos sugerem novo crescimento da atividade em março, mantendo a perspectiva de expansão do PIB no período. O resultado do IBC-Br ficou abaixo do consenso de mercado — que era de alta de 0,5% — pelo segundo mês seguido. Mas a economia brasileira voltou a crescer, pois em janeiro o IBC-Br recuou 0,73% (e também frustrou as expectativas do mercado). A expectativa da REAG era de alta de 0,45% (M/M) devido ao bom desempenho da indústria (0,7%), do varejo ampliado (2,0%) e do setor agropecuário. A deterioração da confiança, do setor de serviços (-0,2%) e problemas nas cadeias produtivas (pandemia e guerra Rússia/Ucrânia) limitaram o movimento.
Na quarta-feira, o IBGE deve divulgar a produção industrial de março, que deve ter alta de 0,5% (M/M). Dão suporte à nossa estimativa, o bom desempenho dos indicadores coincidentes, tais como produção de veículos (5,0%, Anfavea), expedição de papel ondulado (1,1%, ABPO), fluxo de veículos pesados (0,5%, ABCR) e Nível de Utilização da Capacidade Instalada (0,4%, NUCI-FGV). Atuando como limitador do movimento, destaque para a deterioração da confiança, aumento da incerteza e problemas na cadeia produtiva. A autoridade monetária também divulgou hoje a Nota Fiscal de fevereiro, que mostrou que o setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 3,5 bi no mês, melhor do que o observado no mesmo mês do ano passado, quando houve déficit de R$ 11,8 bi. Além disso, a relação dívida/PIB caiu 0,4 pp, para 79,2%.
A semana também traz os dados do setor automotivo, que deve seguir apresentando números fracos, dada a continuidade do conflito na Ucrânia e os novos lockdowns na China, que podem ter ampliado os problemas de oferta de insumos no setor. O emplacamento e a produção de veículos de abril serão divulgados pela Fenabrave e Anfavea, na quarta e sexta, respectivamente.
Em relação às contas externas, a Secex divulga ao longo da semana (sem data definida em função da paralisação parcial dos funcionários do Ministério) os números da balança comercial de abril, que deve registrar superávit de US$ 10,0 bi, similar ao apresentado em abril de 2021 (US$ 10,0 bi). O resultado do mês deve seguir impulsionado pelo bom volume de exportações, beneficiado pela alta dos preços das commodities.
O destaque da agenda externa será a decisão do Fed (quarta-feira), a qual deve ser pautada pelo aumento no ritmo de elevação da Fed Funds Rate (FFR). Na reunião do FOMC, a autoridade monetária deverá aumentar em 50 bps a FFR, chegando ao intervalo [0,75%-1,0%] e mantendo esse ritmo de altas nas decisões futuras. Também é esperado o anúncio formal do início da redução no programa de compras de ativos (“quantitative tightening”), o qual irá ocorrer em velocidade superior aos ciclos anteriores de redução do balanço de ativos. Além da decisão, os mercados devem acompanhar de perto a coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell.
Outro destaque estará nos dados do mercado de trabalho americano de março, com a criação de empregos do JOLTS na terça, o relatório de emprego da ADP na quarta, encerrando na sexta com o Payroll. O relatório de emprego da ADP deve registrar 388 mil vagas de empregos privados em abril. Na quinta, serão divulgados a prévia do custo unitário do trabalho no 1T22 e os pedidos semanais de seguro-desemprego. Finalizando a semana, o Payroll de abril tende a manter a taxa de desemprego estável em 3,6%. Também na sexta membros do Fed discursarão e o crédito ao consumidor de março será divulgado.