Na agenda local, os fluxos globais devem preponderar sobre os ativos, em uma semana de agenda de indicadores domésticos ainda limitada por conta da greve dos funcionários públicos, que tem interrompido as divulgações de dados.
Nesta segunda-feira, o Banco Central divulgou a Nota Fiscal de março, cuja leitura mostrou que o setor público consolidado apresentou superávit primário de R$ 4,3 bi no mês, pouco abaixo do registrado em março do ano passado (superávit de R$ 5,0 bi), devido ao desempenho mais fraco do governo central, que concentrou os pagamentos do abono salarial neste início de ano. Já a relação dívida/PIB caiu de 79,2% para 78,5%, beneficiada também pela apreciação cambial do período.
As estatísticas fiscais elaboradas pelo Banco Central foram definidas como atividade essencial, e, por isso, foram divulgadas, a despeito da greve dos servidores. Tal determinação deriva da Lei de Responsabilidade Fiscal, que obriga a Secretaria do Tesouro Nacional a encaminhar uma documentação sobre o cumprimento das metas fiscais referente ao quadrimestre de janeiro-abril ao Congresso, a qual utiliza as estatísticas fiscais compiladas pela autoridade monetária. Além das estatísticas fiscais, a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada para quinta-feira (18 de maio), também deve acontecer normalmente.
No entanto, outras divulgações, como o Relatório Focus, IBC-Br, entre outros, seguem suspensas, dada a continuidade da greve. Na última semana, o Banco Central chegou a enviar uma proposta de Medida Provisória com pedido de reajuste de 22% aos servidores e reestruturação das carreiras do órgão, mas recuou após informar que encontrou inconsistências no texto. Aparentemente, o texto encontrou resistência do Ministério da Economia, que planeja um reajuste linear de 5,0% para todos os servidores públicos federais. Resta ver se o governo, de fato, fará tal proposta e se será suficiente para encerrar o movimento grevista, dado que em alguns casos (como no Banco Central), a reivindicação é de um reajuste de 27%.
Por conta da paralisação dos servidores do Banco Central, o IBC Br não deverá ser divulgado na próxima semana. Com isso, ganha relevância o resultado de março do Monitor do PIB que será divulgado pela FGV, na terça-feira. Após os indicadores setoriais (indústria, serviços e varejo) mostrarem um primeiro trimestre positivo, os números do Monitor devem calibrar as apostas para o desempenho do PIB no período, que será divulgado pelo IBGE no próximo dia 2 de junho.
Ainda na terça-feira (17 de maio), a FGV também divulga o IGP-10 de maio, que deve registrar elevação de 0,45%, apresentando uma ligeira aceleração em relação ao IGP-10 de abril (0,41%), em grande parte, devido à menor queda dos preços agropecuários. O movimento deve ser condicionado pela retomada de pressões sobre o preço de commodities agrícolas, como a soja e o milho, cuja redução foi significativa no último resultado. Em contrapartida, espera-se arrefecimento dos preços industriais, devido à dissipação de pressões do recente reajuste de combustíveis nas refinarias sobre o preço da gasolina e do diesel. Neste mesmo sentido, a menor alta esperada para os preços de combustíveis tem impacto baixista sobre os preços ao consumidor, que também deve desacelerar. Ao longo da semana será conhecida a arrecadação federal de abril.
No exterior, destaque para a bateria de indicadores de atividade da China na madrugada de domingo e os dados de vendas do varejo nos Estados Unidos, referentes a abril.
A semana começa também digerindo a bateria de dados de atividade da China em abril, que saíram na noite do domingo (15 de maio) no horário do Ocidente. As vendas no varejo e a produção industrial chinesa mostraram fortes quedas na comparação com o mesmo período do ano anterior. O varejo recuou 11,1% no mês, aprofundando a queda de março (-3,5%), enquanto a indústria caiu 2,9% (ante +5,0%). Os números vieram bem piores que o esperado pelo consenso (-6,6% e +0,5%, respectivamente) e refletem a política de “Covid zero” no país, que culminou nos rígidos lockdowns em Xangai durante abril. Tal problema agora também atinge a capital Pequim e deve apresentar seus efeitos na leitura de maio.
Estes são os números mais fracos apresentados pelo país desde o início da pandemia (mar/20), reforçando a intensidade das atuais medidas e seus efeitos negativos sobre a economia. Ainda na China, na quinta-feira, serão decididas as taxas de juros prime de 1 ano e 5 anos. Após a decepção em março, onde não houve redução, o mercado espera que o governo chinês aumente os estímulos na economia e reduza moderadamente a taxa (em 0,05 pp) de 1 ano, para contribuir com alguma recuperação da atividade no 2º semestre.
Nos EUA, onde a preocupação com a inflação é crescente, os dados de atividade devem manter a leitura de uma economia aquecida, o que reforça a percepção da necessidade de um aperto monetário intenso pelo Fed. Os dados de vendas no varejo e produção industrial, ambos de abril, serão conhecidos na terça-feira. Quanto ao varejo, a expectativa é de alta de 1,0% no mês, acelerando ante a expansão de março (+0,7%). No caso da indústria, é esperada uma desaceleração, com alta de 0,5% no mês (ante 0,9%), diante da expectativa de maiores dificuldades na indústria automotiva (restrição da oferta de insumos). Finalizando a agenda no país, ocorrerá a divulgação de uma série de indicadores do setor imobiliário (quarta-feira e quinta-feira).
Na Zona do Euro, destaque para a leitura final de abril da inflação ao consumidor (CPI), quarta-feira, que deve confirmar a prévia e acelerar ligeiramente para 7,5% no acumulado em 12 meses (ante 7,4%). Na terça-feira é a vez de ser conhecida a 2ª leitura do PIB do 1T22, que deve confirmar a tímida expansão de 0,2% no trimestre. A agenda do bloco ainda possui, na sexta-feira, a prévia de maio da confiança do consumidor.