Decisão do Copom será destaque na agenda local
Depois da surpresa altista com o IPCA e diante das revisões altistas do PIB, a elevação da Selic de 0,75 ponto porcentual (p.p.) deve ser acompanhada de uma reavaliação do Banco Central, indicando que o ajuste da taxa de juros pode ir além do “esperado inicialmente. Teremos também o índice IBC-Br de abril, que deve reforçar as expectativas de que o crescimento continua sustentado.
Na quarta-feira, teremos o principal evento da semana, a Reunião do Copom. No encontro, o Banco Central deve aumentar em 0,75 p.p a taxa Selic, passando de 3,50% para 4,25% a.a. Acerca do conteúdo do comunicado, entendemos que, diante dos riscos inflacionários e das expectativas da inflação acima da meta em 2022, a autoridade monetária deve abandonar a menção ao processo de normalização parcial, adotando sinalização mais clara de que a taxa de juros tende a subir continuamente nas próximas reuniões. De toda forma, a atenção dos agentes estará centrada no comunicado pós-decisão que trará a visão do colegiado em relação à velocidade e o tamanho do ajuste. Até a última reunião, o Copom tem indicado ser apropriado uma normalização parcial da taxa de juros, mantendo algum grau de estímulo.
No entanto, diante da surpresa positiva da atividade neste início de ano e, principalmente, da pressão inflacionária mais persistente, que já começa a contaminar as expectativas de inflação para 2022, parte relevante do mercado espera que o colegiado adote uma postura mais firme, retirando a mensagem de ajuste parcial e indique que o Copom se pautará apenas em levar a inflação de volta para sua meta em 2022. Nesta direção, ganha força a leitura de que a Selic deve subir até seu nível neutro (estimado em 6,5% aa) ainda em 2021. Ante às leituras recentes que mostram atividade mais fortalecida e a inflação mais longe da meta, acreditamos que a sinalização de normalização chamada “parcial” deverá ser descartada. Muito provavelmente, o termo “normalização parcial” dará lugar apenas à expressão normalização, sem qualificação. Quanto à indicação sobre a reunião seguinte, o mais provável parece ser manter o ritmo atual.
Há um debate, legítimo, se o BC deveria fornecer esses dois guidances – de curto prazo (próxima reunião) e de médio prazo (final do ciclo) – frente ao cenário de incerteza acima da usual que atravessamos. Há dúvidas sobre o tamanho do hiato, por exemplo, mas também sobre a trajetória do câmbio, efeito da reabertura sobre a inflação de serviços etc. De todo modo, ainda parece que ambos os guidances permanecerão presentes, pelo menos na próxima reunião.
Nesta segunda-feira, o Banco Central divulgou o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de abril, considerado prévia do PIB, que registrou alta de 0,44% na comparação com março. Na comparação com abril de 2020, a alta foi de 15,92%. O dado veio um pouco acima do projetado pela REAG (que previa +0,38%) e bem abaixo do consenso de mercado, segundo levantamento da Bloomberg (+1,35%) na comparação com março de 2021. Na comparação anual, a expectativa era de alta de 18,2%, também levando em conta a base de comparação deprimida do ano passado. O índice voltou a mostrar crescimento depois de cair 1,6% em março, quando interrompeu 10 meses de avanços quando o país se tornou o epicentro da pandemia do coronavírus.
O IGP-10 de junho (quarta-feira) deve desacelerar de 3.24% para 2.15%, muito em função do arrefecimento dos produtos agropecuários.
No ambiente internacional, a decisão de política monetária do Fed concentrará as atenções do mercado. O FOMC poderá já trazer o debate do início da redução das compras de ativos, frente às surpresas altistas com a inflação e à consolidação da melhora da economia. Ainda assim, deve manter sua leitura de que as pressões da inflação são essencialmente temporárias, trazendo as restrições de oferta como elementos a serem observados. Além disso, teremos dados de atividade econômica, referentes a maio, da China e dos EUA.