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2015 foi uma catástrofe econômica: mas de quem é a culpa?

Ao fazermos uma retrospectiva do ano que passou, nos deparamos com um cenário legitimamente calamitoso. O PIB deverá encerrar 2015 em baixa de pelo menos 3,5%, o desemprego perto de 10% e a inflação próxima a 11%. Trata-se de um típico cenário de estagflação. Mas quais as verdadeiras razões dessa catástrofe econômica? Na visão liberal, a culpa seria da “nova matriz macroeconômica”. Já na visão da esquerda, a culpa seria do ajuste fiscal adotada pelo ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Contudo, na nossa visão, ambas as justificativas estão equivocadas. A atual conjuntura econômica é fruto da perda da competitividade da indústria brasileira associado a fatores conjunturais. Como a indústria de transformação é a principal força motriz do crescimento econômico, a desindustrialização se traduziu em perda do PIB.
O país, acometido pela “doença holandesa” vive as consequências do processo de “desindustrialização”: perda da capacidade exportadora e perda da competitividade. Tal doença, refere-se ao fenômeno ocorrido no século passado, na Holanda, quando houve a descoberta de gás natural. Observou-se forte ingresso de capital estrangeiro, proveniente da exploração e exportação do gás, levando a uma sobrevalorização da moeda nacional, o que por sua vez impactou negativamente nos setores industriais que necessitam de câmbio desvalorizado para crescer. Como consequência, a Holanda entrou em um processo de desindustrialização, com perda da importância relativa da indústria de transformação na economia comparativamente ao bem natural.
No caso brasileiro, convivemos há mais de 10 anos com a forte entrada de capitais especulativos atraídos pelo diferencial de juros e inflação superior à média mundial. Além disso, desde 2005, a explosão do preço das commodities trouxe uma enxurrada de capitais para o Brasil. Como resultado desse forte influxo de capital externo, o Real se sobrevalorizou, estimulando o aumento do consumo de bens importados. Contudo, os benefícios dessa alta no consumo foram inócuos do ponto de vista do crescimento econômico, uma vez que a renda gerada escoou para fora do Brasil na forma de maior importação de produtos manufaturados. Assim, os estímulos de demanda vislumbrados pela chamada “nova matriz macroeconômica” também foram inócuos em um ambiente de câmbio sobrevalorizado.
Do ponto de vista do setor industrial, seu fraco desempenho nos últimos anos tem como principal causa a piora da sua competitividade, dado que a sobrevalorização do Real propiciou um maior coeficiente de penetração das importações. Em 1985, a indústria de transformação chegou a responder por 20% do PIB. Essa participação caiu para 14% em 2011, chegando a 11% em 2014, nível abaixo do observado em 1947 quando o país ainda não havia passado pelo processo de industrialização que começou no governo Juscelino Kubitschek (1956-1961).
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Ademais, outros fatores conjunturais corroboraram com o cenário de desindustrialização que vivemos: a Operação Lava Jato e os efeitos adversos sobre novos contratos da Petrobras, que sozinha é responsável por cerca de 10% dos investimentos em bens de capital no país; o reajuste dos preços administrados em 2015, cujos valores ficaram congelados até a reeleição da presidenta Dilma Rousseff e seus efeitos perversos sobre a renda dos trabalhadores, e a queda da confiança dos empresários, investidores e consumidores diante da crise política que se instalou em Brasília.
Assim, o processo de desindustrialização associado aos fatores conjunturais se traduz em queda do investimento privado nacional, aumento na taxa desemprego, queda no consumo das famílias e recuo da atividade econômica. Nesse ambiente, a União registrou uma significativa queda na arrecadação ao longo de 2015, fato que inviabilizou, em parte, o ajuste fiscal pretendido no primeiro ano do segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.
Para desatar o nó do estagflação, é necessário restaurar a competitividade da indústria brasileira. Para tanto, não basta apenas a manutenção da taxa real de câmbio em um patamar significativamente adequado para reparar o grau de competitividade, mas sim toda uma agenda político-econômica que deixe de lado a política de crescimento com poupança externa e volte-se para dar competitividade à indústria nacional.

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